sábado, 4 de maio de 2013

DIA DA MÃE

Hoje, domingo, dia 5 de maio, celebra-se o Dia da Mãe. 
Que no seu dia se imprima a cor da poesia!

Ilustração de Manon Gauthier

Ó MÃE

       Ó mãe, regressa a mim. Embala-me no tempo em que os teus lábios rebentavam de ternura. Ó mãe, ó minha mãe, ó rio de água pura, correndo pelas veias. Pelo vento.
       Ó mãe, que és mãe de Deus, que és mãe de mim e mãe de Antero e de Camões, e mãe de quem lhe faltam as palavras como se faltasse o ar. E são assim uma espécie de filhos de ninguém. Abre o teu ventre, mãe.
     Acorda. Vem parir-me. E vem sofrer a minha dor uma vez mais. Morrer de amor por mim. Vem impedir-me o medo. Ensinar-me a amar a luz dos animais.
       Ó mãe, ó minha mãe. Ó pátria. Ó minha pena. Que me pariste, assim, temperamental. Mãe de Ulisses, de Guevara e mãe de Helena. E mãe da minha dor universal.
Joaquim Pessoa, Ano Comum

Ilustração de Yiang Pan

POEMA À MÃE

No mais fundo de ti 
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou 
O menino adormecido 
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras 
Que há leitos onde o frio não se demora 
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo 
São duras, mãe, 
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas 
Que apertava junto ao coração 
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas, 
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa; 
Esqueceste que as minhas pernas cresceram, 
Que todo o meu corpo cresceu, 
E até o meu coração 
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? 
- Às vezes ainda sou o menino 
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração 
Rosas tão brancas 
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz: 
Era uma vez uma princesa 
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme, 
E todo o meu corpo cresceu. 
Eu saí da moldura, 
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe. 
Guardo a tua voz dentro de mim. 
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade, Os Amantes sem Dinheiro

Ilustração de Daryl Zang



SÓ POR ISSO, MÃE

Mesmo que a noite esteja escura, 
Ou por isso, 
Quero acender a minha estrela.

Mesmo que o mar esteja morto, 
Ou por isso, 
Quero enfunar a minha vela.

Mesmo que a vida esteja nua, 
Ou por isso, 
Quero vestir-lhe o meu poema.

Só porque tu existes, 
Vale a pena!

Lopes Morgado, Mulher Mãe

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