ANTÓNIO MEGA FERREIRA, VIAGEM PELA LITERATURA EUROPEIA
(Texto da contracapa)
Hoje propomos-te a leitura de um livro escrito há
mais de 100 anos, mas com uma atualidade incrível. Trata-se de um conjunto de
crónicas escritas por Eça aquando da sua estadia em Inglaterra, nas quais este
autor maior da nossa literatura reflete sobre diversos temas.
Deixamos-te alguns excertos, na esperança de que
venhas a ler outras páginas desta obra.
ACERCA DE OUTUBRO E DOS LIVROS
«Outubro chegou, e, com este mês, em que as folhas
caem, começam aqui a aparecer os livros, folhas às vezes tão efémeras como as
das árvores, e não tendo como elas o encanto do verde, do murmúrio e da sombra.
Estamos com efeito em plena book-season,
a estação dos livros.
Estes dois meses, setembro e outubro (e eles
merecem-no, porque, como cor, luz, repouso, são os mais simpáticos do ano), têm
acumulado em si as mais interessantes seasons,
as estações mais fecundas da liga inglesa.»
ACERCA DAS CRIANÇAS, DOS ADULTOS E DA IDIOTICE
«Isto é tanto mais atroz quanto a criança portuguesa
é excessivamente viva, inteligente e imaginativa. Em geral, nós outros, os
Portugueses, só começamos a ser idiotas – quando chegamos à idade da razão. Em
pequenos temos todos uma pontinha de génio: e estou certo que se existisse uma
literatura infantil como a da Suécia ou da Holanda, para citar só países tão
pequenos como o nosso, erguer-se-ia entre nós o nível intelectual.
Em lugar disso, apenas a luz do entendimento se abre
aos nossos filhos, sepultamo-la sob grossas camadas de latim! Depois do Latim
acumulamos a retórica! Depois da retórica atulhamo-la de lógica (de lógica,
Deus piedoso!). E assim vamos erguendo até aos céus o monumento da camelice!»
SOBRE AS VERDADEIRAS RECOMPENSAS
«Uma boa fazenda, de rendimento certo, numa província
rica, com casa já mobilada e alguns cavalos na cavalariça, não seria talvez de
mais. Se a gratidão do governo imperial quisesse juntar a isto, para alfinetes,
um ou dois milhões de ouro, eu não os recusaria. E se não me quisessem dar
nada, bastar-me-ia então que um só bebé se risse e fosse alguns minutos feliz.
Pensando bem – é esta a recompensa que prefiro.»
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