domingo, 14 de junho de 2015

O LIVRO DA MINHA VIDA – PELO PROFESSOR LUÍS CRAVO

Quando falamos de livros, não há um sem dois, nem dois sem três… ou até muitos mais.
Agora que o ano letivo está a terminar, deixamos-te mais um dos muitos livros da vida do Professor de História Luís Cravo. Trata-se de Fábulas Proibidas de Alberto Moravia, uma ótima sugestão de leitura para férias. 
No dia 23 de abril, Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, muitos alunos e professores tiveram o prazer de escutar o professor Luís Cravo e de participar na leitura de excertos desta obra. Chegou, agora, a vez tu próprio te surpreenderes, de refletires sobre a condição humana e de, seguramente, rir à gargalhada! Rir do mundo em que vives e rir de ti próprio...


Não temos, seguramente, apenas “um livro da nossa vida”… para quem ama ler, como eu, é impossível ter apenas “um livro da minha vida”. Na verdade, tenho muitos livros da minha vida, muitos pratos da minha vida, muitas mulheres da minha vida, muitos homens da minha vida, muitas viagens da minha vida…o que me agrada, na espécie humana, é a diversidade. Sem ela, nada faria sentido e o mundo, tal como o conhecemos, seria uma grande bolha insípida, oca, escura e insossa… Foi assim que Alberto Moravia, nome maior da literatura italiana do séc. XX, entendeu o mundo e os seres humanos. A obra “Fábulas Proibidas” foi o livro que escolhi, na Semana da Leitura, para responder ao repto que me foi feito pelo grupo disciplinar de Português, i.e., apresentar aos alunos “O Livro da Minha Vida”, numa iniciativa que, posso dizê-lo, me fez vibrar em cada segundo em que a planeei. Escolher “O Livro” foi, não obstante, uma tarefa de Jó! Nos 59 metros quadrados do meu apartamento, há livros por todo o lado. Não se cingem à sala, quarto e escritório. Estão no quarto de banho, na cozinha, no hall e no corredor…livros com décadas, algumas preciosidades que ultrapassam o século já. Muitos livros da minha vida, portanto! As Fábulas do Moravia têm a particularidade de ser, porventura, o melhor ensaio sobre a psique humana que li em toda a minha vida. Assim, e sob a condição inerente ao meu ADN humano, foi este livro que escolhi para apresentar aos alunos que iriam assistir à iniciativa para a qual fui convidado. Entre serpentes, rinocerontes, formigas e papa – formigas, Adão e Eva (é verdade, estes também…), porcos– espinhos, chernes, javalis, camaleões e outros animais, decorreu, desta forma, aquilo que era suposto durar 45 minutos…na verdade, passaram 90 minutos e, alunos do 7.º,  8.º e 9.º anos continuavam dentro da Biblioteca, transfigurados nas personagens de Moravia, envolvidos nas peripécias de um Éden com graves defeitos de fabrico, a par com os desabafos de um tal Pah Dreh Ther No, suposto criador da humanidade, confinado a uma solidão angustiante e impotente perante a inevitabilidade da corrupção como condição histórica e natural. Nesta obra-prima de Alberto Moravia há um evidente propósito moralizante, mas que, em muito, ultrapassa as fábulas ou alegorias comuns. O divino é esmagado pela realidade quotidiana e, por isso mesmo, Deus (travestido de diversas formas mas, ainda assim, sempre o artífice do mundo) sente-se permanentemente angustiado, ultrapassado, senão mesmo vilipendiado. A ironia, a doce e pacífica arma de Moravia, é a pedra de toque deste livro e está presente em quase todos os contos. Se, de início, os alunos presentes pensaram estar perante mais uma apresentação de um qualquer livro, se lhes pareceu que, a seguir, iam contar cada um dos 45 minutos que restavam, enganaram-se…ao fim de 90 minutos, cada um deles encarnou uma personagem, leu com paixão trechos dos contos, sorriu espontaneamente face à soberba humana despida das suas roupagens, deu palpites sobre os contos, fez questões…enfim, ali tínhamos nós todos os “animais” da criação, olhando-se, ouvindo-se e, sobretudo, lendo sobre nós próprios. E como foi bom ouvir estes alunos a ler, a incarnar as personagens moravianas, a par com alguns dos professores que estiveram presentes. Alberto Moravia teria, com toda a certeza, amado este momento e eu, honestamente, ter-lhe-ia prometido: “Vamos ter mais tardes como estas! Com humanos a ler as suas fábulas”. E sim, precisamos de mais tardes como estas…a lermos uns com os outros, a ouvirmo-nos…venham elas!

Professor Luís Cravo

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