terça-feira, 17 de maio de 2016

PENSAMENTO DA SEMANA: TEMPO, O MELHOR PRESENTE

 



O melhor presente que podes dar a alguém é o teu 

              TEMPO.

Porque, quando ofereces o teu tempo a alguém, estás a oferecer um pedaço da tua vida que nunca mais voltará.

domingo, 15 de maio de 2016

POEMAS PARA AS MÃES

Maio rima com Mãe.
É em maio que que celebra o "Dia da Mãe" e os nossos alunos não se esqueceram disso: em EMR, sob a supervisão da professora Felicidade Araújo, escreveram poemas em homenagens às suas mães.
Lê-os aqui:

quinta-feira, 12 de maio de 2016

REVISTAS DE MAIO

Que prazer ter uma revista para ler!

    

O mês de maio chegou inesperadamente mais frio e chuvoso quando já todos sentíamos desejo de primavera e tempo bom para aproveitar para ler num banco de jardim, debaixo de uma frondosa árvore, a ouvir o som da passarada a preparar os ninhos.
Dentro ou fora, na escola ou no jardim, em casa ou na esplanada, aqui vão as sugestões das novas revistas deste mês, acabadinhas de chegar aos escaparates da nossa biblioteca.
VISÃO júnior- A capa é dedicada ao skate e lá dentro, traz dicas do campeão nacional para aperfeiçoar as mais difíceis manobras. Vem ainda com uma reportagem sobre Shawn Mendes, alguns truques para estudar neste final do ano letivo que de aproxima, duas páginas sobre um instrumento que nos encanta, o piano, diversos artigos sobre ensino sem ir à escola (a sério!) ou animais (desta vez a atenção vai para o Bulldog francês) e ainda jogos e brincadeiras.
SUPERinteressante - Este mês, o destaque vai para um interessante artigo que nos dá a explicação científica para fenómenos como a telepatia, os raptos por extraterrestres, os fantasmas e outros assuntos assustadores de que ouvimos falar. Boa notícia: afinal, eles não existem! São tudo armadilhas do nosso cérebro. A SUPERinteressante propõe ainda muitos outros temas superinteressantes, como já vem sendo hábito.
A NATIONAL GEOGRAPHIC – Chama a atenção em especial para uma descoberta arqueológica relacionada com o túmulo de Filipe II da Macedónia, pai de Alexandre, o Grande. Como sempre nos habituou, os assuntos são variados e as fotografias de espantar!
O JORNAL DE LETRAS - O assunto em destaque é Mário Sá Carneiro, mas as propostas são variadas, da educação ( com uma entrevista a Marçal Grilo) ao teatro, da literatura ao cinema.
A ARTES entre as LETRAS- Chamada de atenção especial para os murais da cidade do Porto feitos por artistas que reinventam a cidade e referem personalidades e aspetos que lhe são queridos.
E porque o verão está quase aí (dizem os calendários), chegou também a ELLE com sugestões de mimos e luxos para sonharmos com casamentos e compras.
Texto: Prof.ª Fátima Neto

LIVROS DO MÊS DE MAIO

“O que um escritor nos dá não são livros.
O que ele nos dá, por via da escrita, é um mundo.”
                                                                    Mia Couto

É por isso que desta vez sugerimos…

Para os adultos…

 A MÃE,  de Máximo Gorki
Gorki é o escritor russo que melhor faz a transição entre a monumental literatura russa de finais do século XIX e a literatura ideológica desse país no século XX.
A MÃE é uma história revolucionária em todos os sentidos. Talvez nunca o espírito revolucionário tenha sido expresso de uma forma tão pungente, sincera e romântica. Escrito e publicado em 1907, este romance descreve em pormenor a desgraça, a tristeza e a miséria em que vivia o povo russo no tempo do czar Nicolau II. É entre essa miséria que emerge um grito lancinante de revolta, o grito profundo das almas feridas que arrancará a esperança das profundezas da injustiça.
Um grupo de jovens operários desperta para as ideias bolcheviques e encara-as como a solução para pôr fim à miséria e à injustiça de que eram vítimas os operários e camponeses russos. Mas essa revolta que se sonha é encarada como um movimento universal, capaz de libertar todos os injustiçados do mundo. Nesse sentido poder-se-á dizer que se trata de uma mensagem ingénua. Essa mensagem não encerra em si qualquer ambição de poder. Pelo contrário, o que se pretende é acabar com o poder como forma de opressão.
Pavel é o mais brilhante desses jovens. Mas por trás dele, ou melhor, ao lado dele emerge a força imensa de uma mulher: a sua mãe, Pelágia. Ela é a grande guerreira, que sofre em silêncio todas as vicissitudes de uma mulher pobre na Rússia czarista: vítima da miséria mas também de um marido bêbado e violento. Até que ele morre e Pelágia passa a seguir o caminho do filho na senda da revolução. Sente-se a mãe de todos os revolucionários; a mãe da revolução. Neste aspecto, Gorki estabelece um curioso paralelismo entre o amor maternal e uma espécie de amor universal que comanda a mente e a ação destes revolucionários; uma espécie de “amor ao próximo”.

Para os mais crescidos…

A INVENÇÃO DE HUGO CABRET, de Brian Selznick
Órfão, guardião dos relógios e ladrão, Hugo vive por entre as paredes de uma movimentada estação de comboios parisiense, onde a sua sobrevivência depende de segredos e do anonimato. Mas quando, repentinamente, o seu mundo se encaixa - tal como as rodas dentadas dos relógios que vigia - com o de uma excêntrica rapariga amante de livros e o de um velho amargo, dono de uma lojinha de brinquedos, a vida secreta de Hugo e o seu segredo mais precioso são colocados em risco. Um desenho misterioso, um bloco que vale ouro, uma chave roubada, um homem mecânico e uma mensagem escondida do falecido pai de Hugo formam a espinha dorsal deste intrincado, terno e arrebatador mistério.


Para os mais jovens…

SE EU FOSSE... de Richard Zimler
Imaginem ser capazes de voar como uma borboleta, saltar como um canguru ou espreitar o cimo das árvores como uma girafa. Todos sabemos que as crianças, frequentemente, fantasiam que conseguem adquirir as características extraordinárias dos animais, desde os mais pequenos aos mais majestosos. E é bom que o façam! Porque os mais jovens têm de "viver" estas transformações e ter aventuras libertadoras para se tornarem adultos criativos e imaginativos, capazes de realizarem os seus sonhos.
Se eu fosse… é um livro que encoraja as crianças (e talvez os seus pais também!) a ultrapassarem as suas limitações. Este livro convida os mais jovens a nadarem como um peixe tropical ou a cantarem como um melro - ou até  a afastarem os banhistas da praia com o "sorriso" de um tubarão!
Texto: Prof.ª Fátima Neto

quarta-feira, 11 de maio de 2016

PARA OS AMANTES DE ARTE - SUGESTÃO II

Também na Galeria Geraldes, uma exposição coletiva que tem por tema os animais extintos ao longo do século passado:







PARA OS AMANTES DE ARTE - SUGESTÃO I

Para quem gosta de arte:

MAIO NO ANO 1000

A guerra medieval. séc. XIV. Bibliothèque Nationale Française, Paris

     Com a chegada da primavera, enquanto os campos floresciam, também os homens acordavam para a guerra e voltavam às armas que tinham estado adormecidas durante o frio gélido do inverno. A guerra era uma realidade que chegava sempre com o bom tempo visto que no rigor do inverno era mais difícil deslocar exércitos.
     Havia dois tipos de guerra: a campal e a de cerco. Esta foi a época dedicada à construção de castelos e muralhas visto que estas fortificações eram as mais adequadas para evitar as pilhagens do exército vencedor. Os castelos eram sitiados por exércitos que utilizavam maquinaria desenhada para tentar penetrar na povoação cercada. Era a época dos cavaleiros estes faziam-se acompanhar por soldados de infantaria que podiam ter sido recrutados para cumprir a obrigação do “fossado”, ou a soldo por serem combatentes profissionais ou ainda por terem saído perdedores de outras batalhas e como tal, feitos escravos.
Texto: Prof.ª Fátima Neto
Fonte: SUPERinteressante, 
Edição especial História

sexta-feira, 6 de maio de 2016

SEXO À MODA DO PORTO – A VIOLÊNCIA NO NAMORO EM CONVERSA COM O DR. QUINTINO AIRES


   

No passado dia 28 de abril, a nossa biblioteca tornou-se ainda mais viva, transformando-se num verdadeiro estúdio de televisão.
A turma A, do 8º ano, ao longo do segundo período e no contexto da disciplina de Cidadania e Mundo Atual, desenvolveu um projeto no âmbito da Educação Sexual, tendo por temática a violência no namoro. Com a presença da jornalista Dr.ª Ana Guedes e do psicólogo Professor Doutor Quintino Aires – autores do programa Sexo à moda do Porto –, os alunos desenvolveram com estes intervenientes um verdadeiro diálogo. Por entre projetores, câmaras, cabos elétricos..., estes alunos verbalizaram muitas das suas dúvidas e desconfianças.
Participaram, também, nesta atividade os alunos da turma C e S, do 8º ano, contando sempre com intérpretes de Língua Gestual Portuguesa, para garantir a comunicação efetiva com todos os alunos.
Com efeito, esta atividade foi verdadeiramente inclusiva e integradora de todos os discentes sem exceção. 




Vê a reportagem do Porto Canal AQUI!

ENCERRAMENTO DA SEMANA DA LEITURA – APANHADAS A LER EM EDUCAÇÃO FÍSICA


Será possível ler (também) enquanto se faz Educação Física?
Orientadas pelo professor Álvaro Nuno em colaboração com a professora Rita Areias, as alunas do Clube de Dança mostraram-nos que, embora não seja fácil, é possível apreciar os livros em quaisquer circunstâncias. Basta, para tal, que encontremos um bom livro e que nos permitamos dar-lhe a oportunidade de nos deliciar e enriquecer.



segunda-feira, 2 de maio de 2016

SEMANA DA LEITURA: TESTEMUNHO DE LEITORES | DIA 5


Era suposto termos a “Semana da Leitura”. Sim, “era suposto”. Todavia, a adesão da comunidade tem sido tão expressiva que já vamos na “Segunda Semana da Leitura”! Para além das iniciativas a decorrer na biblioteca, temos tido o testemunho de leitores, ex-alunos, professores, pais e elementos da comunidade, que vieram falar dos livros que os marcaram e da importância da leitura nas suas vidas.


Hoje tivemos o privilégio de receber dois convidados que aceitaram dar-nos o seu testemunho e que são de áreas profissionais e de formação muito diferentes, o que mostra que a leitura é transversal e não específica de determinadas profissões:
▪ A Dra. Isabel Santos tem formação em Relações Internacionais e Sociologia e é atualmente deputada na Assembleia da República, eleita pelo círculo do Porto. É Presidente da Comissão de Democracia, Direitos Humanos e Questões Humanitárias da Assembleia Parlamentar da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa). Já foi Governadora Civil do Porto e exerceu cargos em autarquias.
▪ O Dr. Pedro Sarmento, para além de ter sido um ativo desportista, tem formação em Educação Física e Desporto e é professor na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Exerceu diferentes cargos, incluindo no gabinete de desporto da autarquia, e é atualmente o Presidente do Académico Futebol Clube, aqui perto na rua Costa Cabral.


NA ESCOLA: APRENDER A APRENDER

ISABEL SANTOS começou cedo a ler coisas sérias. Foi criança única até aos 9 anos e habituou-se a estar sozinha. Sozinha, não: tinha a companhia dos livros e, durante os três meses de férias, lia uns livros atrás dos outros. O hábito da leitura foi-lhe incutido pelos pais e pelos adultos que via a ler. As novelas da sua infância (como «Gabriela, Cravo e Canela» - baseada num dos romances mais célebres de Jorge Amado) também tiveram um papel importante no seu percurso de leitura: foi a propósito da Malvina, que lia O crime do Padre Amaro, romance “escandaloso e proibido” às escondidas e era perseguida por isso, que Isabel Santos começou também a ler a obra de Eça. Claro que, quando leu este romance pela primeira vez, não teve dele um entendimento cabal: faltava-lhe, então, o vocabulário e a vivência para que tal fosse possível.
Isabel Santos tem desempenhado funções muito díspares e tudo o que sabe deve-o aos livros a que recorreu para se atualizar nas diversas fases da sua vida. É precisamente a sua vasta experiência ancorada nos livros lidos que lhe dá a autoridade para afirmar:  “A escola, mais do que os conteúdos, deve levar os jovens a aprenderem a aprender sozinhos. Isso foi o mais importante que a escola me deu!”
Foi também a leitura a grande catapulta do bisavô de Isabel Santos: embora não tivesse mais do que a 4.ª classe (atual 4.º ano), nem nunca tivesse viajado para o estrangeiro, fez um percurso que lhe permitiu ser guarda-livros (equivalente ao atual contabilista), fez a revisão de textos de Aquilino Ribeiro, foi revisor do jornal “Primeiro de Janeiro” e chegou mesmo a escrever textos para esse jornal, porque tinha uma visão muito alargada do mundo, que adquiriu graças aos muitos livros que lia.

HERÓIS QUE SE CONTROEM PELA LEITURA
OU ACERCA DO PODER LIBERTADOR DOS LIVROS

“Somos fruto das nossas viagens físicas e daquelas que os livros nos proporcionam”, crê Isabel Santos. Acredita, igualmente, que a sua capacidade de intervenção social se deve ao que a vida lhe tem proporcionado e, sobretudo, ao que foi aprendendo nos livros, porque a leitura impele-nos a colocarmo-nos no lugar dos outros, a sentir e a reagir, além de estimular a nossa imaginação. Este processo mexe com a nossa capacidade criativa e torna-nos mais tolerantes e mais capazes de intervir, social e civicamente.
Ontem, a propósito do 1.º de maio e da sua vinda à nossa escola, Isabel perguntou-se qual o livro que mais a marcou. E regressou à primeira vez (e também à última) em que leu A Mãe de Máximo Gorki, um livro que é uma evidência do poder libertador dos livros.
Trata-se, segundo Isabel, de um livro notável, cuja protagonista é uma heroína que se constrói pela leitura, numa época em que o povo russo vivia tempos marcados pela rudeza e pela crueldade, mas que, graças aos escritos revolucionários que o filho lhe trazia para casa, se transformou numa líder.
Para terminar a sua intervenção inicial, Isabel Santos deixou um conselho: “Leiam! Leiam muito! Porque esse é o melhor instrumento de que dispõem para se construírem como indivíduos capazes e interventivos. Ao longo da vida podem vir a encontrar muitas barreiras que vos travem, mas, se lerem, serão sempre mais livres do que aqueles que não o fazem e irão sempre mais longe!”



“O FUNDAMENTAL DE UM BOM LIVRO É FAZER-NOS SONHAR”

Para iniciar a sua intervenção, PEDRO SARMENTO confessou que o que mais gostaria era algo que não iria conseguir: entrar dentro de cada aluno e perceber o que gostaria que lhe dissesse. Falou, depois, da sua infância: não fora um bom aluno e, para desgosto de sua mãe, não levava boas notas para casa. Do que gostava, realmente, era da atividade desportiva: jogar futebol, hóquei, natação…
Foi no mundo do desporto e através das conversas com os amigos que começou a perceber o mundo, mas, com o passar dos anos, percebeu que podia ir mais longe, que podia sonhar. E sonhar, para Pedro Sarmento é fundamental: «com o sonho construímos o que mais gostamos; com o sonho voamos para onde queremos estar» - assegura-nos.
É essa a grande a grande vantagem dos livros: “O fundamental de um bom livro é fazer-nos sonhar.”
Este professor universitário e diretor desportivo, que deposita uma enorme confiança nas gerações mais jovens, considera-se um leitor por fases: agora lê toda a obra de um escritor; em seguida, escolhe outro e devora todos os seus livros. Aconteceu assim com a obra de Miguel Torga, que teve a oportunidade de conhecer nas férias de verão, na praia que ambos frequentavam. Pedro Sarmento adivinhava o fim próximo do respeitável e austero ancião de chapéu preto, pelo que quis retê-lo, lendo os seus textos e descortinando a conceção de vida que alicerçava toda a sua obra.
No entanto, o poeta transmontano é apenas um dos muitos autores que Pedro Sarmento aprecia. Por isso, apresentou-nos uma mochila cheiinha de livros dos autores que o têm feito voar e entre os quais se contam:
▪ Haruki Murakami – Sempre que sai algum livro deste autor, lá está Pedro na fila para ser um dos primeiros a ficar com a obra. Pudera! Murakami fá-lo abstrair-se dos dos problemas com que tem de defrontar-se no clube e na faculdade onde trabalha. Como refere, arrebatado, os momentos em que lê um livro do autor japonês “São horas de deleite total. Posso estar com problemas na faculdade, no clube ou até mesmo em casa, que, durante umas horas, entro no livro e esqueço tudo”
▪ José Saramago - Não é um autor fácil de ler e não leu toda a sua obra, mas considera que alguns dos livros do Prémio Nobel português são absolutamente fantásticos. O Memorial do Convento foi o primeiro romance que leu, depois de frequentar a tropa em Mafra, e o Ensaio sobre a Cegueira, que foi adaptado ao cinema pelo realizador brasileiro Fernando Meirelles, é outro bom exemplo. Na verdade, como habitualmente, o livro é, na sua opinião, muito melhor que o filme, pois «nos filmes, ficamos agarrados às imagens, mas com os livros ficamos agarrados às palavras e às ideias e a nossa imaginação não para».
▪ David Lodge – Quando lê este autor -que aborda um universo que lhe diz respeito, o da academia, dos círculos universitários, dos congressos - Pedro ri-se das situações fantásticas espraiadas nas sua obras.
▪ José Eduardo Agualusa – Para Pedro, o expoente máximo da escrita em português, que tem a capacidade de o deixar preso a uma primeira frase de um romance, pela sonoridade das palavras e pelo ritmo das frases, e é o autor de um dos livros mais interessantes que já leu - As Mulheres do meu Pai, livro que o fez recordar o seu próprio pai.
▪ Carlos Ruiz Zafón – Outro autor, catalão, que Pedro aprecia e que escreveu, por exemplo A sombra do vento, uma alegoria da espécie de amizade que alguns leitores mantêm com certos livros e que prende o leitor desde o primeiro instante.
Depois de falar de alguns dos escritores que o fazem voar, Pedro Sarmento exortou os alunos a aderirem à leitura. Claro que ler não é a única coisa importante a fazer: Pedro até está à vontade para dizer que há alturas em que tem quatro ou cinco livros na mesinha de cabeceira e que, noutros momentos, não lê. Porém, é fundamental alimentar o sonho lendo livros, assim como é importante dialogar com os amigos, ir ao cinema, praticar desporto, ouvir música… pois, para sermos felizes não chega sermos pragmáticos: é necessário calibrar a realidade com o sonho.




«A LEITURA E A NOSSA MUNDIVIDÊNCIA
FAZEM-NOS MUDAR AS LENTES DA MENTE!»

Depois de tão interessantes testemunhos, houve ainda lugar a questões, momento em que ficamos, ainda, a saber que:
▪ Quando Pedro Sarmento não gosta de um livro, simplesmente não o lê. Antes ainda se “castigava” lendo o livro até ao fim, mas agora não o faz. Deixa-o de lado e já lhe aconteceu pegar nesse mesmo livro noutro momento e até gostar.
▪ Houve livros que deixaram estes dois leitores experientes tristes. Por exemplo, o último livro que Isabel Santos leu, Deixar Alepo de Manuela Nisa, deixou-a tristíssima, pois conta a história de uma família obrigada a abandonar a sua terra e a viver toda a espécie de situações de aviltamento da condição humana.
▪ O Livro que mais marcou Pedro Sarmento é… o próximo. Este (também) autor de sete livros vive na expectativa de que o próximo livro que lerá será o livro da sua vida!

Em suma, mesmo que, por vezes, sejas obrigado a ler um livro que não te agrada tanto, não desistas de encontrar o livro da tua vida. Na vida há duas vertentes: o mundo real, quotidiano, que é, obviamente, importante. Mas depois há outra vertente que é a do sonho, que vem com os livros, com a música, com o cinema, com a arte. Com o sonho podemos viver o que ambicionamos e que o quotidiano não nos permite, como nos transmitiram estes brilhantes oradores, cujas palavras sábias cativaram a audiência.

domingo, 1 de maio de 2016

SEMANA DA LEITURA: ENCONTRO COM MANUELA BACELAR

Escreveu e ilustrou cerca de uma dezena e meia de livros e ilustrou mais de meia centena de obras de outros autores. É por isso que Manuela Bacelar discorda quando se lhe chama escritora. Ela é, como sublinha, ilustradora e foi nessa condição que conquistou vários prémios nacionais e internacionais, entre os quais a “Maçã de Ouro”, lhe foi atribuída na Bienal Internacional de Bratislava, com a ilustração de Silka de Ilse Losa. “Havia mais de cinco mil candidatos, mas o júri atribuiu-me o prémio a mim!”, recorda. Bem merecido, dizemos nós.


O talento para desenhar descobriu-o nos bancos da escola: já então, ainda muito jovem, não se cansava de desenhar nas páginas dos livros e dos cadernos, e sua mãe, que queria que Manuela fosse pintora, nunca a contrariou. Pelo contrário, sempre que surgia a oportunidade para a ajudar a crescer, oferecia-lhe tintas, papel, lápis, até lápis de chocolate! Porém, quando chegou a altura de se especializar na sua arte, Manuela Bacelar teve de sair do país. Foi para a Checoslováquia (atuais República Checa e Eslováquia), onde permaneceu durante seis anos e conheceu um bom professor, com quem aprendeu muito.
Ao longo da sua carreira, a ilustração não foi o seu único ofício: também realizou algumas curtas-metragens de animação e, durante algum tempo foi funcionária pública. A opção pela ilustração de livros para crianças foi motivada pela infância do filho. Naquela altura, não existiam bons livros ilustrados para crianças, o que era uma falha enorme, já que a imagem tem um valor incontornável na compreensão das mensagens transmitidas, mais ainda quando se trata de livros para os mais novos.
Quando se ilustra um livro, a qualidade do papel é, como defende, fundamental: a textura e a cor do papel condicionam o trabalho realizado. Um papel pode ser adequado para determinada ilustração e ser desadequado para outra. Acresce que, do seu ponto de vista, o que também é crucial na criação artística é a curiosidade, a pesquisa e o prazer: “O que não se faz por prazer não sai bem!”, assegura.
Além de desenhar, Manuela Bacelar também aprecia ouvir os outros. Por isso, incitou os presentes a apresentarem a forma como abordaram as suas obras, assim como a colocarem questões. E assim foi: as docentes de alunos surdos e ouvintes envolvidas surpreenderam a autora, falando das múltiplas atividades que desenvolveram em torno das obras estudadas – O Avô Tobias, Os Ovos Misteriosos e Sebastião, entre outras. Desde a exploração do vocabulário (em língua portuguesa e língua gestual) à elaboração de retratos e autorretratos, do estudo dos opostos à recriação das histórias, do convite aos avós para fabricarem bolachas ao estudo das profissões, do reconto oral e escrito das histórias à criação de canções, da criação de figurinos às dramatizações… foram múltiplas e muito diversificadas as abordagens das histórias escritas e ilustradas por Manuela Bacelar.



    


A ilustradora ficou surpreendida com tudo quanto ouviu e, depois, foi a vez de nos contar algumas curiosidades acerca dos livros que os nossos alunos leram: para escrever O Meu Avô, inspirou-se nas viagens de autocarro em que ouvia os avós queixarem-se de que não tinham nada para fazer, o que a deixava a pensar que eles poderiam ajudar os seus netinhos; Sebastião, que não tem texto, foi a resposta a uma provocação que uma interveniente fez aos ilustradores presentes num encontro, quando afirmou que os livros para crianças poderiam resumir-se a um texto sem ilustrações (?); com Tobias fantasma pretendia ajudar a exorcizar os medos que atemorizam as crianças em determinada etapa da infância; gostou de desenhar todas as personagens de Os Ovos Misteriosos, à exceção da galinha, porque teve de desenhar galinhas até à exaustão, quando não gosta de repetir desenhos.








Por último, chegou a vez de os nossos alunos presentearem Manuela Bacelar com as lembranças que criaram (recriações das suas obras, um retrato da autora e até bolachas!) e dos autógrafos, outro momento em que Manuela Bacelar nos surpreendeu: para além da habitual dedicatória, esta ilustradora de renome internacional fez um desenho diferente em cada livro, deixando-nos, de forma original, mais uma marca de um dia invulgar.



 

SEMANA DA LEITURA: TESTEMUNHO DE LEITURA DE UMA UTÓPICA



“I AM UTOPIAN” / “EU SOU UTÓPICA”

O currículo de Fátima Vieira é extensíssimo: é Professora Associada com Agregação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde leciona desde 1986; é especialista na área dos Estudos sobre a Utopia; é Presidente da associação Utopian Studies Society / Europe desde 2006; é coordenadora do Polo do Porto do CETAPS – Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies, onde dirige uma linha de investigação sobre o utopismo britânico e norte-americano, e colaboradora do ILC – Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, onde tem coordenado projetos de investigação sobre o utopismo português; é, atualmente, coordenadora do projeto de investigação financiado pela FCT "Utopia, Alimentação e Futuro: O Modo de Pensar Utópico e a Construção das Sociedades Inclusivas - Um Contributo das Humanidades"; é ainda diretora da coleção “Nova Biblioteca das Utopias”, publicada pela editora Afrontamento, bem como de dois periódicos eletrónicos: E-topia - revista eletrónica de Estudos sobre a Utopia e Spaces of Utopia (publicados pela Biblioteca Digital da FLUP); é Book Review Editor do periódico norte-americano Utopian Studies e faz parte do Conselho Editorial de várias revistas internacionais; é coordenadora do Programa de Pós-Doutoramento e Internacionalização ARUS – Advanced Research in Utopian Studies, bem como dos Seminários Multidisciplinares ARUS; integra, desde a sua fundação, a equipa de investigadores que se tem vindo a dedicar à tradução e estudo da obra de Shakespeare…
Não obstante a extensão do seu currículo, este bem poderia resumir-se a uma frase curta: “Eu sou utópica” / “I am utopian”!
Tudo começou quando, há trinta anos, Fátima se encontrou com o livro da sua vida, a Utopia, obra escrita há meio milénio por Thomas More.

PARA QUE SERVE A LITERATURA?

Um só livro pode alterar o curso de uma vida, como sucedeu com Fátima Vieira. Porém, como esta  professora doutora, especialista em literatura inglesa lembrou aos nossos alunos de 8.º ano que tiveram o privilégio de a escutar, a literatura, a grande literatura, serve muitos fins:
▪ A literatura põe-nos em contacto com mundos que de outro modo nunca conheceríamos. No seu caso, o primeiro contacto que teve com a China aconteceu quando leu as obras de Pearl S. Buck, Prémio Nobel em 1938, que, nos seus livros, descreveu pormenorizadamente a cultura asiática, para além de ter defendido os direitos das mulheres e das minorias. Pelo contrário, quando trabalhou com o investigador albanês Eris Rusi, muitas vezes era-lhe difícil estabelecer diálogo com o colega, uma vez que desconhecia o seu país de origem, por nunca ter tido a oportunidade de ler livros oriundos daquela nacionalidade. Como Eris lhe explicou, havia uma razão para ela desconhecer a sua cultura: dado que a Albânia estivera durante muitos anos sob um regime ditatorial, a literatura autóctone fora completamente asfixiada; por outro lado, os cinco tradutores oficiais do regime escolhiam os livros estrangeiros que, do ponto de vista da ditadura, poderiam ser lidos pelos albaneses e mutilavam-nos, suprimindo as partes passíveis de “acordar” a população. Por esta razão, quando chegavam (se é que chegavam!) aos leitores, os livros tinham uma dimensão substancialmente menor que os originais.
▪ A literatura oferece-nos lições de vida e demonstra-nos que temos de ser mais solidários. Assim acontecia, por exemplo, com a literatura vitoriana, representada pela obra de Charles Dickens, autor de As Aventuras de Oliver Twist ou David Copperfield, obras que eram lidas ao serão na casa dos privilegiados e lhes apresentavam uma perspetiva diferente sobre a difícil vida do operariado.
▪ Sendo um simulador muito económico da realidade - uma obra apenas pode reportar-se à vida de várias gerações, mas nós, em contrapartida, jamais poderíamos viver numa só vida todas as experiências que um livro apenas é capaz de relatar -, a literatura confronta-nos com dilemas éticos (“O que é que eu faria se…?”), para além de ser uma excelente companhia.
▪ A literatura é um meio de viagem – ao passado, ao presente e ao futuro; a meios sociais distintos do nosso; a países e sociedades desconhecidas, transformando-nos, por isso, em cidadãos do mundo.
▪ A literatura é um instrumento que nos prepara para a vida, porquanto desperta em nós sentimentos de empatia, compreensão, repulsa, indignação, revolta, sublevação… bem como nos predispõe a uma maior compreensão de outras culturas, à tolerância e à aceitação de outros pontos de vista. Ajuda-nos, igualmente, a aceitar os nossos fracassos, porque nos coloca frente ao fracasso dos outros, tal como nos incita a enfrentarmos as consequências das nossas ações, a identificar as questões fundamentais da existência humana e a compreender a nossa própria vida.
▪ A literatura exige que nós – os leitores – usemos a nossa experiência e sensibilidade para completar a narrativa. É por isso que cada leitor interpreta a obra à sua maneira. Vejamos, a título de exemplo, Os Irmãos Karamásov, de Fiódor Dostoiévski. Será que se trata de um livro sobre as relações familiares e como elas se desfazem? Ou será sobre a nossa relação com Deus? Será sobre redenção? Sacrifício? Traição? Sobre as tensões entre pais e filhos? Será sobre a rejeição e a solidão? Obviamente, é sobre todas estas coisas e muito mais!
▪ Como também refere Richard Zimler, quem lê mais é mais participativo, mais empreendedor e um ser humano mais completo. Como afirma, “(…) as histórias escritas por outras pessoas – por pessoas que não conhecemos – podem ter um efeito direto no modo como nos vemos a nós próprios e como interagimos com os outros. Ajudam-nos a tornarmo-nos seres humanos completos por nos permitirem contar a nossa história com justeza e verdade, quer de modo consciente quer abaixo da superfície da nossa consciência”.

THOMAS MORE, UTOPIA, 1516

Em 1516, quando escreveu a Utopia, Thomas More obrigou os seus contemporâneos a pensarem em coisas sobre as quais nunca tinham pensado. Nesta obra, dividida em duas partes e escrita em latim (o inglês não era à data a língua franca em que veio a transformar-se, e o autor pretendia que a sua obra fosse o mais universal possível), Thomas More começa por denunciar, no Livro I, todas as injustiças vivenciadas pelos europeus do século XVI. Como podes imaginar, tratava-se, do ponto de vista de muitos dos governantes da época bem como dos que lhes sucederam, de um livro perigoso, não sendo, pois, de espantar que as sucessivas traduções da Utopia apresentem versões distintas, consentâneas com as ideias de cada um dos governantes que “supervisionaram” a sua tradução. Já no Livro II, Thomas More descreve a ilha da Utopia, o “não lugar”, que lhe é apresentado por Rafael Hitlodeu, o marinheiro português que afirma ter estado numa ilha onde tudo é fantástico.

A UTOPIA: UM “PAÍS DA COCANHA”
OU UMA NOVA FORMA DE PENSAMENTO?

Na verdade, no Livro II da Utopia, Thomas More não pretendia que aspirássemos a viver no “País da Cocanha”, onde gansos assados no espeto e cotovias gráceis, bem guisadinhas e cobertas com montes de canela em pó voam diretamente para a boca dos homens, sem necessidade de suar para pagar a conta. A Utopia é outra coisa!
Antes de mais, a utopia radica no pressuposto de que o ser humano é capaz de mudar e tem mesmo a responsabilidade de o fazer. A utopia, como afirma Eduardo Galeano, é algo que colocamos no nosso horizonte e nos dá forças para caminharmos e avançarmos cada vez mais. A utopia não é o caminho, mas os diferentes possíveis caminhos. A utopia radica em perguntas inaugurais: “E se…?” e “Onde quero chegar?”, ou melhor, “Onde queremos chegar?”
Com a Utopia, Thomas More criou uma visão particular do mundo e uma nova forma de pensamento: pensamento inclusivo, pensamento crítico, pensamento holístico e pensamento criativo. No fundo, trata-se de libertarmos a imaginação e de sermos cidadãos ambiciosos nos nossos objetivos e, consequentemente, termos a possibilidade de chegar mais longe; trata-se de termos a capacidade de descentramento e de trabalhar em cooperação, com ética e solidariedade; trata-se de sermos questionadores, indagantes, responsáveis e conscientes das nossas ações; trata-se, ainda de produzirmos conhecimento novo de que toda a sociedade poderá usufruir - na Utopia, não se idealiza nem a Natureza nem o ser humano, mas a organização social, preocupando-se o utopista em resolver os problemas sociais (criminalidade, pobreza, vício…) através de um conjunto de estratégias coerentes. No fundo, como refere Gonçalo M. Tavares em Breves Notas sobre Ciência, trata-se de “Observar a realidade pelo canto do olho, isto é: pensar ligeiramente ao lado”.
Não se pense ainda que na Utopia se pressupõe a mudança radical e instantânea da sociedade. Pelo contrário, a utopia imagina o novo “a partir de novas combinações e escalas daquilo que existe, a maioria das vezes pequenos detalhes obscuros daquilo que existe”, como esclarece Boaventura de Sousa Santos em A estratégia utópica (p. 480)

“THE WORLD GOES TO WHERE WE TAKE IT”
“O MUNDO VAI PARA ONDE NÓS O LEVARMOS”

Fátima Vieira deixou que a filosofia de um livro norteasse toda a sua ação ao longo dos últimos 30 anos e, por isso, envolveu-se em múltiplos projetos com jovens portugueses e estrangeiros (ver em Utopia500.net). Neste momento, está ligada a projetos muito interessantes, nos quais também tu podes participar. Destacamos alguns:
- “Utopian Challenge”, que consiste em te filmares a dizer “Eu sou utópica” / “Eu sou utópico”, visando a produção de um mega vídeo mundial, que mostre que nós, os utópicos somos muitos;
- “PanUtopia”, projeto que visa o combate ao desperdício alimentar;
- “Os sons da Utopia”, cujo lema é “vale a pena tocar em músicas e trazê-las para o presente” e que tem por objetivo  fazer o update das  músicas do Renascimento;
- “Great Utopians” /”Grandes Mentes Humanas”, através do qual se pretende construir um mapa alternativo da cidade, valorizando o património humano.


DESAFIO: COMEÇA A ESCREVER O LIVRO III DA UTOPIA

Um desafio demasiado ambicioso? O.K. talvez seja mesmo demasiado ambicioso. Para já!
No entanto, há dois desafios um bocadinho menos ambiciosos que Fátima Vieira nos deixou :
LIBERTA A TUA IMAGINAÇÃO. Como dizia Albert Einstein, “A imaginação é mais importante do que o conhecimento. Pois o conhecimento é limitado, ao passo que a imaginação abarca o mundo inteiro, estimulando o progresso, gerando evolução. É, na verdade, um fator importante a ter em conta na investigação científica”.
▪ E que tal começar a LER E a COLOCAR QUESTÕES? As perguntas que fazemos sobre as outras sociedades levam-nos a colocar questões sobre a nossa sociedade. E a querer mudá-la!

Lembra-te: até as plantas hermafroditas [com a possível exceção da ervilheira] necessitam de material genético novo para se reproduzirem. Que tu sejas o material genético novo. Que a mudança comece em ti!