domingo, 1 de maio de 2016

SEMANA DA LEITURA: ENCONTRO COM MANUELA BACELAR

Escreveu e ilustrou cerca de uma dezena e meia de livros e ilustrou mais de meia centena de obras de outros autores. É por isso que Manuela Bacelar discorda quando se lhe chama escritora. Ela é, como sublinha, ilustradora e foi nessa condição que conquistou vários prémios nacionais e internacionais, entre os quais a “Maçã de Ouro”, lhe foi atribuída na Bienal Internacional de Bratislava, com a ilustração de Silka de Ilse Losa. “Havia mais de cinco mil candidatos, mas o júri atribuiu-me o prémio a mim!”, recorda. Bem merecido, dizemos nós.


O talento para desenhar descobriu-o nos bancos da escola: já então, ainda muito jovem, não se cansava de desenhar nas páginas dos livros e dos cadernos, e sua mãe, que queria que Manuela fosse pintora, nunca a contrariou. Pelo contrário, sempre que surgia a oportunidade para a ajudar a crescer, oferecia-lhe tintas, papel, lápis, até lápis de chocolate! Porém, quando chegou a altura de se especializar na sua arte, Manuela Bacelar teve de sair do país. Foi para a Checoslováquia (atuais República Checa e Eslováquia), onde permaneceu durante seis anos e conheceu um bom professor, com quem aprendeu muito.
Ao longo da sua carreira, a ilustração não foi o seu único ofício: também realizou algumas curtas-metragens de animação e, durante algum tempo foi funcionária pública. A opção pela ilustração de livros para crianças foi motivada pela infância do filho. Naquela altura, não existiam bons livros ilustrados para crianças, o que era uma falha enorme, já que a imagem tem um valor incontornável na compreensão das mensagens transmitidas, mais ainda quando se trata de livros para os mais novos.
Quando se ilustra um livro, a qualidade do papel é, como defende, fundamental: a textura e a cor do papel condicionam o trabalho realizado. Um papel pode ser adequado para determinada ilustração e ser desadequado para outra. Acresce que, do seu ponto de vista, o que também é crucial na criação artística é a curiosidade, a pesquisa e o prazer: “O que não se faz por prazer não sai bem!”, assegura.
Além de desenhar, Manuela Bacelar também aprecia ouvir os outros. Por isso, incitou os presentes a apresentarem a forma como abordaram as suas obras, assim como a colocarem questões. E assim foi: as docentes de alunos surdos e ouvintes envolvidas surpreenderam a autora, falando das múltiplas atividades que desenvolveram em torno das obras estudadas – O Avô Tobias, Os Ovos Misteriosos e Sebastião, entre outras. Desde a exploração do vocabulário (em língua portuguesa e língua gestual) à elaboração de retratos e autorretratos, do estudo dos opostos à recriação das histórias, do convite aos avós para fabricarem bolachas ao estudo das profissões, do reconto oral e escrito das histórias à criação de canções, da criação de figurinos às dramatizações… foram múltiplas e muito diversificadas as abordagens das histórias escritas e ilustradas por Manuela Bacelar.



    


A ilustradora ficou surpreendida com tudo quanto ouviu e, depois, foi a vez de nos contar algumas curiosidades acerca dos livros que os nossos alunos leram: para escrever O Meu Avô, inspirou-se nas viagens de autocarro em que ouvia os avós queixarem-se de que não tinham nada para fazer, o que a deixava a pensar que eles poderiam ajudar os seus netinhos; Sebastião, que não tem texto, foi a resposta a uma provocação que uma interveniente fez aos ilustradores presentes num encontro, quando afirmou que os livros para crianças poderiam resumir-se a um texto sem ilustrações (?); com Tobias fantasma pretendia ajudar a exorcizar os medos que atemorizam as crianças em determinada etapa da infância; gostou de desenhar todas as personagens de Os Ovos Misteriosos, à exceção da galinha, porque teve de desenhar galinhas até à exaustão, quando não gosta de repetir desenhos.








Por último, chegou a vez de os nossos alunos presentearem Manuela Bacelar com as lembranças que criaram (recriações das suas obras, um retrato da autora e até bolachas!) e dos autógrafos, outro momento em que Manuela Bacelar nos surpreendeu: para além da habitual dedicatória, esta ilustradora de renome internacional fez um desenho diferente em cada livro, deixando-nos, de forma original, mais uma marca de um dia invulgar.



 

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