Escreveu e ilustrou cerca de uma dezena e meia de livros e ilustrou mais
de meia centena de obras de outros autores. É por isso que Manuela Bacelar
discorda quando se lhe chama escritora. Ela é, como sublinha, ilustradora e foi
nessa condição que conquistou vários prémios nacionais e internacionais, entre
os quais a “Maçã de Ouro”, lhe foi atribuída na Bienal Internacional de
Bratislava, com a ilustração de Silka de Ilse Losa. “Havia mais de cinco mil
candidatos, mas o júri atribuiu-me o prémio a mim!”, recorda. Bem merecido,
dizemos nós.
O
talento para desenhar descobriu-o nos bancos da escola: já então, ainda muito
jovem, não se cansava de desenhar nas páginas dos livros e dos cadernos, e sua
mãe, que queria que Manuela fosse pintora, nunca a contrariou. Pelo contrário,
sempre que surgia a oportunidade para a ajudar a crescer, oferecia-lhe tintas,
papel, lápis, até lápis de chocolate! Porém, quando chegou a altura de se
especializar na sua arte, Manuela Bacelar teve de sair do país. Foi para a
Checoslováquia (atuais República Checa e Eslováquia), onde permaneceu durante
seis anos e conheceu um bom professor, com quem aprendeu muito.
Ao
longo da sua carreira, a ilustração não foi o seu único ofício: também realizou
algumas curtas-metragens de animação e, durante algum tempo foi funcionária
pública. A opção pela ilustração de livros para crianças foi motivada pela infância
do filho. Naquela altura, não existiam bons livros ilustrados para crianças, o
que era uma falha enorme, já que a imagem tem um valor incontornável na
compreensão das mensagens transmitidas, mais ainda quando se trata de livros
para os mais novos.
Quando
se ilustra um livro, a qualidade do papel é, como defende, fundamental: a
textura e a cor do papel condicionam o trabalho realizado. Um papel pode ser
adequado para determinada ilustração e ser desadequado para outra. Acresce que,
do seu ponto de vista, o que também é crucial na criação artística é a curiosidade,
a pesquisa e o prazer: “O que não se faz por prazer não sai bem!”, assegura.
Além
de desenhar, Manuela Bacelar também aprecia ouvir os outros. Por isso, incitou
os presentes a apresentarem a forma como abordaram as suas obras, assim como a
colocarem questões. E assim foi: as docentes de alunos surdos e ouvintes envolvidas
surpreenderam a autora, falando das múltiplas atividades que desenvolveram em
torno das obras estudadas – O Avô Tobias,
Os Ovos Misteriosos e Sebastião, entre outras. Desde a
exploração do vocabulário (em língua portuguesa e língua gestual) à elaboração
de retratos e autorretratos, do estudo dos opostos à recriação das histórias,
do convite aos avós para fabricarem bolachas ao estudo das profissões, do
reconto oral e escrito das histórias à criação de canções, da criação de
figurinos às dramatizações… foram múltiplas e muito diversificadas as
abordagens das histórias escritas e ilustradas por Manuela Bacelar.
A
ilustradora ficou surpreendida com tudo quanto ouviu e, depois, foi a vez de
nos contar algumas curiosidades acerca dos livros que os nossos alunos leram: para
escrever O Meu Avô, inspirou-se nas
viagens de autocarro em que ouvia os avós queixarem-se de que não tinham nada
para fazer, o que a deixava a pensar que eles poderiam ajudar os seus netinhos;
Sebastião, que não tem texto, foi a resposta a uma provocação que uma
interveniente fez aos ilustradores presentes num encontro, quando afirmou que
os livros para crianças poderiam resumir-se a um texto sem ilustrações (?); com
Tobias fantasma pretendia ajudar a exorcizar
os medos que atemorizam as crianças em determinada etapa da infância; gostou de
desenhar todas as personagens de Os Ovos
Misteriosos, à exceção da galinha, porque teve de desenhar galinhas até à
exaustão, quando não gosta de repetir desenhos.
Por
último, chegou a vez de os nossos alunos presentearem Manuela Bacelar com as
lembranças que criaram (recriações das suas obras, um retrato da autora e até bolachas!) e
dos autógrafos, outro momento em que Manuela Bacelar nos surpreendeu: para além
da habitual dedicatória, esta ilustradora de renome internacional fez um
desenho diferente em cada livro, deixando-nos, de forma original, mais uma
marca de um dia invulgar.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigada pelo seu comentário!