Numa altura em que o acordo ortográfico continua a fazer correr tanta tinta, deixamos-te um texto sobre o qual vale a pena refletir!
"A Língua Portuguesa. Uma língua que é, de certo modo, inseparável de um processo histórico de criação de nações. A começar por Portugal. Antes de ser Estado, Portugal foi trova, cantar de amigo, flor de verde pinho, menina e moça de Bernardim. E também "o sol é grande" e o "comigo me desavim", de Sá de Miranda. E sobretudo Camões, a lírica e Os Lusíadas, esse poema fundador, que é um verdadeiro acto de soberania espiritual. Eu creio que pela mediação da poesia os poetas fundaram os povos. E os povos fundaram a língua. E a língua fundou as nações. Língua de viagem e mestiçagem. E talvez pátria de várias pátrias. Sem esquecer que há o português da opressão e o português da libertação. O português de múltiplas tiranias e o português das várias resistências. A língua é a mesma. Mas não é a mesma. É una. Mas é diversa. Tanto mais ela quanto mais diferente. Uma língua e diferentes culturas. É essa a nossa riqueza. Somos diferentes na mesma língua. Uma língua, em que as vogais não tem todas a mesma cor. Para já não entrar nas consoantes que, em Portugal, como se sabe, assobiam, na África cantam e no Brasil dançam. Temos um língua com vogais multicolores e consoantes sibilantes, ondeantes e até serpenteantes."
Excerto da conferência “Língua Portuguesa, Língua de Culturas”
proferida por Manuel Alegre na Expolíngua de Madrid em 2003
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