A
Europa encerra um verdadeiro tesouro linguístico: há, no nosso continente, 23 línguas
oficiais e mais de 60 línguas regionais ou minoritárias, para além das línguas
faladas por pessoas oriundas de outros continentes a residirem na Europa.
Precisamente com o objetivo de celebrar este património riquíssimo e a diversidade linguística, mas também
para motivar os cidadãos para a aprendizagem das línguas e promover o multilinguismo,
celebra-se hoje o “Dia Europeu das Línguas”.
Os docentes
do departamento de línguas da nossa escola também não ficaram indiferentes a
esta data, pelo que incitaram os alunos a pesquisarem informação acerca deste
tema e, durante o dia de hoje, para além de poderes observar os cartazes
afixados na vitrina do polivalente ou junto ao auditório, poderás assistir a
pequenas representações de diversas turmas em vários espaços da escola.
Nós
convidamos-te também a ler textos de diversos autores sobre a importância de
aprender as línguas europeias em geral e a língua portuguesa em particular.
«A
minha pátria é a língua portuguesa, escreveu, profeticamente, Fernando Pessoa.
O seu génio expressou-se também, inúmeras vezes, em língua inglesa – mas aquele
que viria a tornar-se o mais internacional dos escritores portugueses sabia que
cada língua tem a sua cor, a sua luz e a sua música própria, e que a sua arte
da escrita consiste em levar para lá dos limites convencionais os dons expressivos
da cada língua. A sua primeira originalidade foi essa: a de se entregar
ilimitadamente à sua língua, sem complexos de mando nem de escravo. Por isso
escreveu sobre o conhecido e o desconhecido, o alto e o baixo, a estética e o
comércio, a política e a astrologia.
Criou
uma constelação de heterónimos e semi-heterónimos – incluindo uma
extraordinária Maria José – que lhe permitiram explorar, visceralmente, as mais
diversas possibilidades do ser. E foi, evidentemente, um poeta inultrapassável –
o tempo paralisa-se diante dos seus textos, sempre inscritos numa verdade
futura. Semeador de papéis com um único livro publicado em vida («Mensagem»),
sonhador de impossíveis que jamais se deixou esmagar pela monótona
incompreensão do seu tempo, Fernando Pessoa deixou uma obra múltipla e
incisiva, que continua a surpreender-nos, a seduzir-nos e, acima de tudo, a
desafiar-nos a quebrar as barreiras do corpo e da alma, da vida e do sonho, da
reflexão e dos sentimentos. Uma obra absolutamente universal.»
Inês Pedrosa
ESTÁ
NA MODA APRENDER PORTUGUÊS
Na China, na Africa do Sul ou na Namíbia
e, pasme-se, aqui mesmo ao lado, em Espanha, o português esta em expansão. Ao
ponto de Carlos Reis, filologo, afirmar que, se tivesse de fazer sugestões
sobre onde criar uma escola portuguesa de excelência, apontaria Madrid como uma
≪seria candidata≫. Só depois Paris e São Paulo.
Em Espanha, em 20 anos, passou-se de
100 para mais de 10 mil alunos. Destes, 72 por cento são Espanhóis. ≪Há um refrescamento da imagem de Portugal. Figo tem alguma
coisa a ver com isso≫, diz o Professor.
Os dados constam de um estudo sobre a
internacionalização da língua portuguesa, coordenado por este Professor de
Coimbra e reitor da Universidade Aberta.
Os números do português, na verdade, já
impressionam: 244 milhões de falantes em todo o mundo, entre os habitantes dos
oito países que tem este idioma como língua oficial e os membros da diáspora.
O Brasil conta com uma percentagem
esmagadora, mas, em Africa, o português já e a terceira língua mais falada. Aí contam, sobretudo, Angola e Moçambique e a sua cada vez maior influência na
parte sul do continente: 35 milhões tem hoje o português como língua de referência
e, dentro de 20 anos, deverão ser 55 milhões. Quanto à China, o português já se
tornou indispensável – para os negócios em Africa, claro.
Carlos Reis, todavia, põe algumas reticências
nesta ≪retórica triunfalista≫, como lhe chama: ≪Estes são falantes de povos e países que, infelizmente,
contam pouco no concerto internacional≫. O Professor não tem dúvidas de que
este e um bom momento para se fazer a promoção do português, mas também sabe
que ≪uma língua tem escassas possibilidades de se
internacionalizar enquanto os países não se afirmarem noutras instâncias, sejam
elas políticas, económicas ou científicas≫.
Fonte:
Expresso, 5 de Julho de 2008