No primeiro dia em que se realiza a atividade "Troca de livros" deixamos-te um poema de Manuel Alegre:
UM LIVRO
Um livro escreve-se uma vez e outra vez.
Um livro se repete. O mesmo livro.
Sempre. Ou a mesma pergunta. Ou
talvez
o não haver resposta.
Por isso um livro anda à volta sobre si mesmo
um livro o poema a prosa a frase
tensa
a escrita nunca escrita
a que não é senão o ritmo
subterrâneo
o anjo oculto o rio
o demónio azul.
Um livro. Sempre.
Um livro que se escreve e não se escreve
ou se rescreve junto
ao mesmo mar.
Um livro. Navegação por dentro
errância que não chega a nenhuma Ítaca.
Um livro se repete. Um livro
essa pergunta
incognoscível código do ser.
Metáfora de cornos e pés de cabra.
Um livro. Esse buscar
coisa nenhuma.
Ou só o espaço
o grande interminável espaço em branco
por onde corre o sangue a escrita a vida.
Um livro.
Manuel Alegre, Livro de Português Errante, 2001.
E a tradução, em castelhano:
UN LIBRO
Un libro se escribe una y otra vez.
Un libro se repite. El mismo libro.
Siempre. O la misma pregunta. O
quizás
el no haber respuesta.
Por eso un libro anda alrededor de sí mismo
un libro el poema la prosa la frase
tensa
la escritura nunca escrita
la que no es sino el ritmo
subterráneo
el ángel oculto el río
el demonio azul.
Un libro. Siempre.
Un libro que se escribe y no se escribe
o se reescribe ante
el mismo mar.
Un libro. Navegación por dentro
vagar que no llega a ninguna Ítaca.
Un libro se repite. Un libro
esa pregunta
incognoscible código del ser.
Metáfora con cuernos y pies de cabra.
Un libro.
Ese buscar
cosa ninguna.
O sólo el espacio
el gran interminable espacio en blanco
por donde corre la sangre la escritura la vida.
Un libro.
Manuel Alegre, Libro del Portugués Errante, 2001.
Traducción de María Tecla Portela Carreiro.
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