quarta-feira, 6 de junho de 2012

UM LIVRO. SEMPRE!

     


     No primeiro dia em que se realiza a atividade "Troca de livros" deixamos-te  um poema de Manuel Alegre:

UM LIVRO 
Um livro escreve-se uma vez e outra vez. 
Um livro se repete. O mesmo livro.
 Sempre. Ou a mesma pergunta. Ou
 talvez
 o não haver resposta.
 Por isso um livro anda à volta sobre si mesmo
 um livro o poema a prosa a frase
 tensa
 a escrita nunca escrita
 a que não é senão o ritmo
 subterrâneo
 o anjo oculto o rio
 o demónio azul.

 Um livro. Sempre. 
Um livro que se escreve e não se escreve
 ou se rescreve junto
 ao mesmo mar.

 Um livro. Navegação por dentro
 errância que não chega a nenhuma Ítaca.
 Um livro se repete. Um livro
 essa pergunta
incognoscível código do ser.

Metáfora de cornos e pés de cabra.
 Um livro. Esse buscar
 coisa nenhuma.
 Ou só o espaço
o grande interminável espaço em branco
 por onde corre o sangue a escrita a vida.
 Um livro.

Manuel Alegre, Livro de Português Errante, 2001.

E a tradução, em castelhano:

UN LIBRO
Un libro se escribe una y otra vez.
Un libro se repite. El mismo libro.
 Siempre. O la misma pregunta. O
 quizás
 el no haber respuesta.
 Por eso un libro anda alrededor de sí mismo
 un libro el poema la prosa la frase
tensa
 la escritura nunca escrita
 la que no es sino el ritmo
 subterráneo
 el ángel oculto el río
 el demonio azul.

 Un libro. Siempre.
 Un libro que se escribe y no se escribe
 o se reescribe ante
 el mismo mar.

Un libro. Navegación por dentro
vagar que no llega a ninguna Ítaca.
Un libro se repite. Un libro
 esa pregunta
 incognoscible código del ser.

 Metáfora con cuernos y pies de cabra.
 Un libro.
 Ese buscar
 cosa ninguna.
 O sólo el espacio
 el gran interminable espacio en blanco
 por donde corre la sangre la escritura la vida.
 Un libro.

Manuel Alegre, Libro del Portugués Errante, 2001. 
Traducción de María Tecla Portela Carreiro.

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