Dez anos depois de Sophia de Mello Breyner ter recebido o prémio em 2003, foi a vez de o poeta Nuno Júdice ser galardoado com o o XXII Prémio Reina Sofia de Poesia Ibero-Americana, atribuído pelo Património Nacional espanhol e pela Universidade de Salamanca.
O poeta algarvio, de 64 anos, é autor de 30 livros de poesia, entre eles, A matéria do poema e Guia dos conceitos básicos, editado em 2010. Além do universo hispânico, Nuno Júdice tem obras traduzidas em Itália, Inglaterra e França e, anteriormente, foi galardoado com vários prémios literários, nomeadamente o Prémio Pen Clube, em 1985, o Prémio Dom Dinis, em 1990, o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores, em 1995, e o Prémio Fernando Namora, em 2004. (LER +) (LER +)
Na sua poesia, Nuno Júdice fala-nos de muitos temas. Até da escola!
Escuta-o em dois dos seus poemas:
O Poeta
Trabalha agora na importação
e exportação. Importa
metáforas, exporta alegorias.
Podia ser um trabalhador
por conta própria,
um desses que preenche
cadernos de folha azul com
números
de deve e haver. De facto, o que
deve são palavras; e o que tem
é esse vazio de frases que lhe
acontece quando se encosta
ao vidro, no inverno, e a chuva cai
do outro lado. Então, pensa
que poderia importar o sol
e exportar as nuvens.
Poderia ser
Um trabalhador do tempo. Mas,
De certo modo, a sua
prática confunde-se com a de um
escultor do movimento. Fere,
com a pedro do instante, o que
passa a caminho
da eternidade;
suspende o gesto que sonha o céu;
e fixa, na dureza da noite,
o bater de asas, o azul, a sábia
interrupção da morte.
Escola
O que significa o rio,
a pedra, os lábios da terra
que murmuram, de manhã,
o acordar da respiração?
O que significa a medida
Das margens, a cor que
Desaparece nas folhas no
Lodo de um charco?
O dourado dos ramos na
Estação seca, as gotas
de água na ponta dos
cabelos, os muros de hera?
A linha envolve os objetos
Com a nitidez abstrata
Dos dedos; traça o sentido
que a memória não guardou;
e o fio de versos e verbos
canta, no fundo do pátio,
no coro de arbustos que
o vento confunde com crianças.
A chave das coisas está
no equívoco da idade,
na sombria abóbada dos meses,
no rosto cego das nuvens.
O segundo poema não seria de Fernando Pessoa?
ResponderEliminarTem toda a razão!
EliminarPor lapso, foi incluído um poema de Ricardo Reis, um dos heterónimos de Fernando Pessoa.
Obrigada pelo seu comentário.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar