"Sejamos sinceros e verdadeiros, nós não inventamos o que quer que seja, pedimos emprestado e recriamos. Destapamos e descobrimos, pois tudo nos foi dado, como dizem os místicos."
Henry Miller, O Sorriso aos Pés da Escada
Na passada 5.ª feira, no âmbito da Semana da Leitura, o professor Paulo Vieira dinamizou uma palestra, no auditório da nossa escola, em que falou dos livros da sua vida aos alunos do 9.º ano. Convidámo-lo a resumir a sua intervenção num texto breve. O professor Paulo aceitou o convite. O texto é o que se segue:
A propósito do livro da minha vida e da Semana da Leitura
Livros são memórias. A mente conserva estas, mas precisa do tato, do cheiro daqueles que de outra forma se perderiam no tempo. Daí os livros serem objetos que guardamos em matéria para avivar a memória, a refrescar.
Como o meu registo, aqui, é confessional, é imperioso sublinhar o eu (que me pode pertencer, ser de ninguém ou de todos – é o preço da palavra: fugir e libertar-se) que fundamenta escolhas como esta do livro da vida de alguém. Não optar é também escolher, diria Jean-Paul Sartre. Mas eu escolho as narrativas, as fábulas, as peripécias como caracterizadoras do meu ser (de todos os seres).
Estórias como “O Sorriso aos Pés da Escada” de Henry Miller, “O Imenso Adeus” de Raymond Chandler ou “O Homem Ilustrado” de Ray Bradbury são recordações de infância e apelos do presente, pelo simples facto de os nomear, porque reler é melhorar a compreensão, é tecer novas teias e crescer outras vez oxigenado, logo revigorado.
Prof. Paulo Vieira
Deixamos aqui as opiniões de alguns dos que escutaram o Professor Paulo Vieira:
Gostei muito da tua palestra, Paulo!
É sempre bom conhecer experiências de leitura.
É ótimo os alunos terem oportunidade de ouvir os professores sobre a importância que os livros tiveram, e têm, nas suas vidas.
Parabéns!
Prof. António Rodrigues
Ouvi atentamente o professor Paulo, quando, na 5.ª feira, partilhou connosco a sua experiência de leitor (partilha essa que agradeço), e, do que ouvi, retive essencialmente duas ideias: em primeiro lugar, é um mito falar-se de um livro como “O” livro da nossa vida, uma vez que, ao longo do tempo, vamos conhecendo livros que “destronam” outros que antes ocuparam o lugar de “ livro da nossa vida”; em segundo lugar, sublinho a influência que a família pode ter no nosso percurso de leitores.
Talvez me recorde especialmente destes dois aspetos, porque também a minha experiência de leitora foi marcada por vários elementos da minha família, assim como por amigos e professores, e porque, ao longo da minha vida, felizmente, já houve vários “livros da minha vida”.
Prestando homenagem àqueles que me moldaram enquanto leitora, não posso esquecer a minha avó Maria, que, antes de eu saber ler, me contou vezes sem conta histórias que ecoam ainda na minha memória, assim como a prima Luísa que, em cada período de férias escolares, me oferecia um ou mais volumes de “Os Cinco”, “Os Sete”, ou as obras de Júlio Verne, com as quais passei muitas horas a viajar. Até fui ao centro da Terra, imagine-se!
Recordo igualmente as minhas professoras de Inglês e de Português do ensino secundário – Isabel Pimentel e Isabel Pizarro - com as quais estudei obras que me marcaram naquela altura: The Catcher in the Rye de Salinger, Os Maias de Eça (que delícia!) e Folhas Caídas de Garrett, estão ainda entre os meus livros prediletos. E não poderia esquecer o meu pai, que, conhecendo o meu gosto pela leitura e pela arte, me ofereceu uma edição de 1883 de Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano (que deixei em péssimo estado depois de ler e sublinhar), ou um portfólio de Carl Spitzwegs, entre muitos outros livros, que guardo como os meus maiores tesouros.
Quando penso no livro da minha vida, ocorrem-me de imediato vários: para além de The Catcher in the Rye – certamente o livro da minha adolescência rebelde – lembro-me de muitos outros: Memórias de Adriano de Marguerite Yourcenar, Siddartha de Hermann Hesse, O Solista de Steve Lopez, A Insustentável Leveza do Ser de Milan Kundera, O Fiel Jardineiro de John Le Carré, O Amor nos Tempos de Cólera de Gabriel García Márquez, … são os livros de ficção que me ocorrem de imediato. Há igualmente livros de não ficção que se encontram certamente entre os meus preferidos, dos quais destaco Uma História da Leitura de Alberto Manguel, Cultura de Dietrich Schwanitz, ou Este ofício de Poeta de Jorge Luis Borges, três livros bastante diferentes, mas todos magníficos.
No entanto, se tivesse de eleger um, escolheria, sem dúvida, A Papisa Joana de Donna Woolfolk Cross, um livro que me fez imergir na Idade Média e me deu a conhecer uma mulher absolutamente extraordinária, que alguns creem não ser apenas uma personagem de ficção.
E continuo, a cada dia que passa, a tentar "destronar" mais este "livro da minha vida"...
No entanto, se tivesse de eleger um, escolheria, sem dúvida, A Papisa Joana de Donna Woolfolk Cross, um livro que me fez imergir na Idade Média e me deu a conhecer uma mulher absolutamente extraordinária, que alguns creem não ser apenas uma personagem de ficção.
E continuo, a cada dia que passa, a tentar "destronar" mais este "livro da minha vida"...
Prof.ª Bibliotecária Assunção Ribeiro
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