sábado, 12 de dezembro de 2015

UMA "QUINTA AVENIDA" EM LISBOA... NO SÉCULO XVI ?

    Quando se fala da “5.ª Avenida” (Fifth Avenue ou 5th Avenue), pensa-se imediatamente numa as avenidas mais movimentadas e mais caras de Nova Iorque. As mansões históricas ladeiam  muitos dos pontos da avenida e as lojas luxuosas abundam ali, tornando a "5.ª Avenida" numa das melhores ruas do mundo para fazer compras.
       Porém, se recuarmos até ao século XVI, quando Lisboa era a capital de um grande império, a Rua Nova dos Mercadores seria a “5.ª Avenida” de então: ali confluíam produtos e gentes dos mais diversos pontos do mundo, transformando a capital portuguesa numa cidade global.
       Dois quadros recentemente encontrados numa mansão inglesa, da autoria de um holandês anónimo, onde a Lisboa quinhentista é representada, mostram que “a Rua Nova dos Mercadores era uma pequena Babel. Nos seus edifícios, moravam italianos, flamengos, andaluzes, portugueses. Enquanto isso, naquela rua da Baixa de Lisboa, cristãos-novos, judeus estrangeiros, escravos vindos de 20 nações africanas, escravos árabes passeavam-se, muitos faziam trocas comerciais”. Lisboa tinha, então, “uma grande população negra. E o quadro não mostra apenas a população negra, mostra também os estrangeiros que ajudaram Lisboa a tornar-se a grande cidade comercial que era no século XVI. Os quadros também mostram animais. Há um cão que está a abocanhar uma ave. E é um peru. É uma ave que veio da América e que os portugueses tornaram numa ave global, levando-a para a Índia e para outras partes do mundo (…). Portugal tinha um império construído durante os Descobrimentos, e um comércio único vindo do Oriente, de África e da América, passava obrigatoriamente por Lisboa.”
     A Rua Nova dos Mercadores «media 286 metros de comprimento e 8,8 metros de largura. “Aproximadamente, 45 edifícios estavam distribuídos de cada lado. A maioria dos edifícios tinham uma ocupação múltipla, consistindo de três, cinco e seis andares (…). Era no rés-do-chão dos edifícios que estava uma multitude de lojas. Em 1552, existiam 11 livrarias, onde também se encontravam livros de matemática, e 20 lojas de roupa e têxteis, onde se vendiam tecidos de veludo, sedas, tecido adamascado, tafetás vindos da Europa, da Índia e do Extremo Oriente. Em 1581, um ano após o início da dinastia filipina, existiam seis lojas especializadas na venda de porcelana Ming chinesa, nove boticas – as “farmácias” que na altura vendiam “produtos medicinais”, alguns importados da Ásia, como pedras bezoares, que se formam no sistema digestivo dos ruminantes, ou cornos de rinoceronte – além de artesãos, como alfaiates, calceteiros, barreteiros ou sirgueiros.»
        É precisamente esta Lisboa cosmopolita o tema do  livro recentemente editado no Reino Unido The global city. On the streets of the renaissance Lisbon (A Cidade Global – Nas Ruas da Lisboa Renascentista), editado pelas historiadoras Annemarie Jordan Gschwend, do Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar, a trabalhar na Suíça, e Kate Lowe, da Universidade Queen Mary de Londres.
       Se a época áurea da história de Portugal desperta a tua curiosidade, talvez valha a pena ler…



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