Neste
início de ano, propomos-te o regresso ao passado, numa viagem de cerca de um
milénio, até ao ano 1000. Então, como agora, a passagem de ano era vivida com expectativa.
No entanto, a vida era muito diferente, como podes imaginar.
No calendário medieval, o rosto de um homem com duas faces olha para a sua direita e para a sua esquerda, numa representação inspirada no deus romano Jano Bifronte, o porteiro que abria e fechava portas, ou seja, épocas. Ele era o homem do mês de janeiro, que fechava a porta do ano que se despedia com a mão direita e abria a porta do ano novo com a mão esquerda. |
As
pessoas do ano 1000 desejavam, acima de tudo, sobreviver nos 365 dias que se
seguiriam, uma vez que, devido à fome e às doenças, a morte olhava de soslaio a
cada esquina. A esperança de vida para os camponeses, os monges e os servos era
inferior aos 45 anos; os reis e outros membros da família real poderiam,
excecionalmente, chegar aos 50 anos.
No norte da Europa, a situação era bem
mais trágica do que nos países do sul: segundo um código anglo-saxónico
existente, um pai podia vender um filho de sete anos como escravo, caso a necessidade
o forçasse a isso (!) e os casos de fome e de morte a ela associados eram
incontáveis; contrariamente, no sul, particularmente na Península Ibérica, a
alimentação era muito mais rica, devido à variedade dos cultivos e à medicina
mais avançada, além de que as condições de vida eram mais salubres.
Lembras-te
do ambiente apocalíptico em que muitos acreditaram aquando do final do último milénio? Pois bem: com a chegada do ano 1000, as coisas não foram muito
diferentes. Melhor: a expectativa de caos iminente era ainda mais acentuada e as
gentes medievais viviam em permanente estado de alerta e ansiedade, devido à
crença generalizada de que o apocalipse anunciado na Bíblia podia acontecer a
qualquer momento, ainda que séculos antes o próprio Santo Agostinho tivesse
desacreditado este género de profecias, qualificando-as
de “fábulas ridículas”. Na verdade, o que a maioria das pessoas esperava não
era tanto um “Juízo Final”, mas uma espécie de grande crise que fizesse tábua
rasa do mundo, que considerava apodrecido e que toda a sujidade e corrupção
existente na sociedade daria lugar a uma nova e melhor época.
Tudo muda, mas muito se repete, não é verdade?
Fonte: Revista SUPERinteressante,
Edição especial História (Outono 2015)
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