sábado, 2 de janeiro de 2016

JANEIRO NO ANO 1000

Neste início de ano, propomos-te o regresso ao passado, numa viagem de cerca de um milénio, até ao ano 1000. Então, como agora, a passagem de ano era vivida com expectativa. No entanto, a vida era muito diferente, como podes imaginar.

No calendário medieval, o rosto de um homem com duas faces olha para a sua direita e para a sua esquerda, numa representação inspirada no deus romano Jano Bifronte, o porteiro que abria e fechava portas, ou seja, épocas. Ele era o homem do mês de janeiro, que fechava a porta do ano que se despedia com a mão direita e abria a porta do ano novo com a mão esquerda.

      As pessoas do ano 1000 desejavam, acima de tudo, sobreviver nos 365 dias que se seguiriam, uma vez que, devido à fome e às doenças, a morte olhava de soslaio a cada esquina. A esperança de vida para os camponeses, os monges e os servos era inferior aos 45 anos; os reis e outros membros da família real poderiam, excecionalmente, chegar aos 50 anos. 
    No norte da Europa, a situação era bem mais trágica do que nos países do sul: segundo um código anglo-saxónico existente, um pai podia vender um filho de sete anos como escravo, caso a necessidade o forçasse a isso (!) e os casos de fome e de morte a ela associados eram incontáveis; contrariamente, no sul, particularmente na Península Ibérica, a alimentação era muito mais rica, devido à variedade dos cultivos e à medicina mais avançada, além de que as condições de vida eram mais salubres.
    Lembras-te do ambiente apocalíptico em que muitos acreditaram aquando do final do último milénio? Pois bem: com a chegada do ano 1000, as coisas não foram muito diferentes. Melhor: a expectativa de caos iminente era ainda mais acentuada e as gentes medievais viviam em permanente estado de alerta e ansiedade, devido à crença generalizada de que o apocalipse anunciado na Bíblia podia acontecer a qualquer momento, ainda que séculos antes o próprio Santo Agostinho tivesse desacreditado  este género de profecias, qualificando-as de “fábulas ridículas”. Na verdade, o que a maioria das pessoas esperava não era tanto um “Juízo Final”, mas uma espécie de grande crise que fizesse tábua rasa do mundo, que considerava apodrecido e que toda a sujidade e corrupção existente na sociedade daria lugar a uma nova e melhor época.
      Tudo muda, mas muito se repete, não é verdade?
Fonte: Revista SUPERinteressante
Edição especial História (Outono 2015)

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