Foi na madrugada de 16 junho de 1816
que nasceu o monstro maldito que assombra leitores há várias gerações. Com ele,
nasceu o género de ficção científica e uma tradição de livros de gelar o
sangue.
A "criatura" e o seu criador - o jovem médico Victor Frankenstein |
Decorria
o verão (o “não verão”) de 1816. Mary Shelley e o marido, o escritor Percy
Bysshe Shelley, viajaram para a Suíça, para uma bela propriedade nas montanhas,
onde estava instalado o seu amigo Lorde Byron, poeta e uma das figuras mais
importantes do romantismo inglês. Todos desfrutavam do verão alpino, caminhando
por bosques e veredas. Porém, certo dia, as nuvens encobriram o sol e a chuva
interrompeu os passeios estivais. Não apenas durante um dia ou dois:
instalou-se por um longo período. Byron, Percy e Mary Shelley e outros
convidados viram-se, por isso, forçados a permanecer em casa, reunindo-se em
redor da lareira.
Aí,
entre copos de vinho, maravilhavam-se com a leitura de grandes clássicos da
literatura, entre os quais alguns volumes de histórias de fantasmas, traduzidas
do alemão e do francês, e, num daqueles dias intermináveis de tempestade de
verão, sem possibilidade de sair para a montanha ou de realizar qualquer outra
atividade no exterior da casa, Lorde Byron lançou um desafio literário aos seus
convidados: propôs-lhes um concurso em que cada um deveria escrever uma
narração, uma história de terror, e aquela que viesse a ser considerada a
narração mais aterrorizadora ganharia o concurso.
Embora
fosse um desafio apaixonante, tanto Byron como Percy Shelley largaram a pena
mal o sol nasceu e o bom tempo voltou. Pelo contrário, Mary Shelley, então com
apenas dezoito anos e muito mais disciplinada que os seus amigos masculinos,
não se deixou distrair nem tentar pelas maravilhas da natureza, preferindo
ficar dentro de casa, onde acabou por escrever Frankenstein ou o Prometeu Moderno.
Assim
nascia, Frankenstein, que, tal como
Mary Shelley desejava, é uma história que faz o leitor recear olhar à sua
volta, lhe gela o sangue e lhe acelera as batidas do coração. Uma história
popular há várias gerações, que fascina os leitores, não apenas por se tratar
de uma boa história de terror e a primeira obra de ficção científica da
História, mas também por abordar questões éticas sempre atuais, como o uso do
conhecimento ou a criação de vida artificial.
Fontes:
“Frankenstein.
O monstro de Mary Shelley nasceu há 200 anos”, de Rita Cipriano (Jornal Observador online)
A vida secreta dos livros, de Santiago Posteguillo
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