domingo, 7 de abril de 2013

120 ANOS DE ALMADA NEGREIROS


Autorretrato de Almada Negreiros

         Celebra-se hoje, dia 8 de abril, o 120º aniversário de nascimento de Almada Negreiros. Este artista multifacetado foi pintor, poeta, bailarino, dramaturgo, conferencista, desenhador, vitralista, romancista e ensaísta.
         Vulto do modernismo português, Almada Negreiros “passou a vida a dizer, a comunicar de todas as maneiras”, como refere a historiadora de arte Sara Afonso Ferreira, que se dedica ao estudo e à inventariação da sua obra.
      Para que vislumbres um pouco dessa obra, deixamos-te aqui dois dos seus textos, dois belíssimos textos:

Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar! Quando voltar, é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras. 
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. 
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a tua mão na minha cabeça, é tudo tão verdade! 

Flor

Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis.
A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas.
A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas
linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

Clica aqui para veres retratos deste autor e de familiares seus.

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