terça-feira, 14 de outubro de 2014

OS LIVROS DA MINHA VIDA: AVENTURA DE JOÃO SEM MEDO

     Inauguramos hoje uma nova rúbrica: “Os livros da minha vida”.
     Dar-te-emos a conhecer obras maiores e livros (talvez) menores. Livros de autores portugueses e livros de autores estrangeiros. Livros que nos resgatam do cinzento dos dias e livros que nos iluminam o olhar. Livros que ajudam a moldar o nosso caráter e livros que permanecem amigos de uma vida. Livros que interrogam o real e livros que espicaçam a imaginação. Livros que nos arrebatam e livros que nos levam à descoberta do mundo e de nós mesmos. 
     Desta vez é o professor Luís Cravo que nos fala de um dos muitos livros da sua vida.
     Delicia-te e inspira-te!

CONHECEM AS AVENTURAS DE UM TAL DE JOÃO SEM MEDO?

A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano

     Venho falar-vos de um dos meus heróis de infância! O seu nome? João! Menino curioso, astuto, corajoso, ousado, inconformista e com muita vontade de conhecer aquilo que estava para além de um gigantesco muro que se erguia em volta da sua aldeia, Chora que Logo Bebes. O nosso João tinha tudo, menos medo! Na verdade, este rapazinho era um intrépido explorador do submundo, ou seja, daquilo que, na sua aldeia, ninguém se atrevia a explorar, a conhecer e nem sequer a questionar.
     Aquele muro gigantesco que se interpunha entre Chora que Logo Bebes e o resto do mundo, oprimia os seus habitantes que passavam os seus dias a chorar como se fossem carpideiras profissionais. Um verdadeiro hino à tristeza, era o que era! Ora, o nosso pequeno herói não se revia naquele ambiente de eterno velório e, curioso, passava os dias a olhar para o muro, como se este lhe dissesse: “Anda, João! Queres ver o que está do outro lado do muro? Então salta, João! Anda!...”. João, farto daquela gente que chorava, chorava e chorava, decidiu-se: iria saltar o muro! Anunciou a sua decisão à mãe que, banhada num choro contínuo, rogou a todos os santos, alminhas e querubins para que João fosse sensato e não saísse, pela sua saudinha, de Chora que Logo Bebes. Pois sim! O nosso João estava mais que decidido! Do outro lado do muro estava aquilo que era “…uma espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos…”. Estava lá e esperava-o: “…graças ao arrimo de uma trepadeira providencial e auxiliado pelas sentinelas invisíveis que guardavam aquela selva misteriosa e pretendiam facilitar-lhe a entrada, não sei com que intuitos secretos, chegou com agilidade ao topo da muralha…”. Do outro lado do muro começam as verdadeiras e incríveis Aventuras de João Sem Medo.
     Não vou aqui dizer muito mais sobre estas aventuras porque é meu desejo que vocês as descubram e se deleitem com as fantásticas peripécias deste rapaz que desafiou tudo e todos. Por ora, deixo apenas um cheirinho deste “caldeirão” recheado de situações inesperadas (algumas verdadeiramente hilariantes). O nosso João vai passar por episódios completamente surreais como quando conhece o Gramofone com Asas ou o Príncipe das Orelhas de Burro ou ainda a Princesa n.º 46 734. Outro trecho delicioso desta grande aventura é quando João Sem Medo conhece um tal de João Medroso (!)… Bem, deixo-vos com água na boca.
     Este Panfleto Mágico em Forma de Romance, como o designou o autor, foi escrito por um dos maiores vultos da literatura portuguesa das décadas de 60 e 70 do século passado, José Gomes Ferreira. Li-o, pela primeira vez, com 9 anos e, desde aí, perdi a conta às vezes que já o reli. Este é um livro que me fez dormir melhor, sonhar muito, sorrir quando não queria sorrir (e chorar a rir também).
     Boa leitura e que os livros fiquem convosco!

Professor Luís Miguel Cravo

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