ANTÓNIO MEGA FERREIRA, VIAGEM PELA LITERATURA EUROPEIA
«É a bodo do navio que leva Ulisses de regresso a
Ítaca bem-amada que embarcamos nesta viagem, que nos há de conduzir do
Mediterrâneo até às portas de Lisboa, ao longo de dez capítulos, cada um
dedicado a uma obra maior da literatura europeia. Da Odisseia, atribuída tradicionalmente
a Homero, ao Livro do Desassossego, atribuído por Fernando Pessoa ao seu
semi-heterónimo Bernardo Soares, poderemos acompanhar aqui as aventuras
prodigiosas do mais comovente dos heróis, D. Quixote, seguir as subtilezas do
cruel jogo de sedução, nas Ligações Perigosas, de Laclos, acompanhar a
irresistível ambição (e não menos irresistível queda) do Lucien de Rubempré inventado
por Balzac em Ilusões Perdidas, apreciar o muito particular sentido de humor de
Thomas Mann na tragicomédia A Montanha Mágica, e embrenharmo-nos na “catedral”
que é o romance (em sete volumes) Em busca do tempo perdido de Marcel Proust.
Sugestão de um roteiro, não exaustivo, que se pretende cais de partida para
outras viagens.»
(Texto da contracapa)
Hoje propomos-te a leitura de um livro escrito há
mais de 100 anos, mas com uma atualidade incrível. Trata-se de um conjunto de
crónicas escritas por Eça aquando da sua estadia em Inglaterra, nas quais este
autor maior da nossa literatura reflete sobre diversos temas.
Deixamos-te alguns excertos, na esperança de que
venhas a ler outras páginas desta obra.
ACERCA DE OUTUBRO E DOS LIVROS
«Outubro chegou, e, com este mês, em que as folhas
caem, começam aqui a aparecer os livros, folhas às vezes tão efémeras como as
das árvores, e não tendo como elas o encanto do verde, do murmúrio e da sombra.
Estamos com efeito em plena book-season,
a estação dos livros.
Estes dois meses, setembro e outubro (e eles
merecem-no, porque, como cor, luz, repouso, são os mais simpáticos do ano), têm
acumulado em si as mais interessantes seasons,
as estações mais fecundas da liga inglesa.»
ACERCA DAS CRIANÇAS, DOS ADULTOS E DA IDIOTICE
«Isto é tanto mais atroz quanto a criança portuguesa
é excessivamente viva, inteligente e imaginativa. Em geral, nós outros, os
Portugueses, só começamos a ser idiotas – quando chegamos à idade da razão. Em
pequenos temos todos uma pontinha de génio: e estou certo que se existisse uma
literatura infantil como a da Suécia ou da Holanda, para citar só países tão
pequenos como o nosso, erguer-se-ia entre nós o nível intelectual.
Em lugar disso, apenas a luz do entendimento se abre
aos nossos filhos, sepultamo-la sob grossas camadas de latim! Depois do Latim
acumulamos a retórica! Depois da retórica atulhamo-la de lógica (de lógica,
Deus piedoso!). E assim vamos erguendo até aos céus o monumento da camelice!»
SOBRE AS VERDADEIRAS RECOMPENSAS
«Uma boa fazenda, de rendimento certo, numa província
rica, com casa já mobilada e alguns cavalos na cavalariça, não seria talvez de
mais. Se a gratidão do governo imperial quisesse juntar a isto, para alfinetes,
um ou dois milhões de ouro, eu não os recusaria. E se não me quisessem dar
nada, bastar-me-ia então que um só bebé se risse e fosse alguns minutos feliz.
Pensando bem – é esta a recompensa que prefiro.»
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