Na “Semana da
Leitura” que hoje iniciamos, convidamos-te a descobrir a palavra escrita,
através das palavras intemporais que os poetas redescobriram e conquistaram.
Escuta-os!
A palavra
Falo da natureza.
E nas minhas palavras vou sentindo
A dureza das pedras,
A frescura das fontes,
O perfume das flores.
Digo, e tenho na voz
O mistério das coisas nomeadas.
Nem preciso de as ver.
Tanto as olhei,
Interroguei,
Analisei
E referi, outrora,
Que nos próprios sinais com que as marquei
As reconheço, agora.
Miguel Torga
(1907-1995)
S. Martinho de
Anta, 13 de abril de 1965
As palavras e
a moda
As palavras têm moda. Quando acaba a moda para umas,
começa a moda para outras. As que se vão embora voltam depois. Voltam sempre, e
mudadas de cada vez. De cada vez viajadas.
Depois dizem-nos adeus e ainda voltam depois de nos
terem dito adeus.
Enfim – toda essa “tourné” maravilhosa que nos põe a
cabeça em água até ao dia em que já somos nós quem dá corda às palavras para
elas estarem a dançar.
Almada
Negreiros (1893-1970)
É fácil trocar
as palavras
É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
(…)
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.
Fernando
Pessoa (1888 – 1935)
(texto com supressões)
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