Após três meses de aulas, chegaram as tão aguardadas férias de Natal. Na escola, na ludoteca e na biblioteca, as decorações natalícias lembram-nos que esta é uma época especial. Na cantina, mesmo ali ao lado, há rabanadas. O cheirinho não engana. Apetece saborear uma: a primeira rabanada do ano é sempre a mais apetecida.
Este é também tempo de presentes. Mas um presente não necessita de vir embrulhado em papel brilhante e colorido. Pode ser um gesto, uma palavra, um texto. Por isso, deixamos-te aqui o primeiro presente de Natal: um conto. Saboreia-o!
UM CONTO DE NATAL
O inverno já se fazia sentir. O vento soprava com força e as nuvens escuras eram presságio de chuva. Talvez por isso, mais ninguém se encontrava ali, à beira-mar. Já ali tinha estado no dia anterior e no dia antes desse. As ondas batiam com violência nas rochas e chapinavam-me a cara. Mas a ansiedade era tanta que não podia desistir ... e olhava naquela imensidão de água ... e esperava. Todos os sonhos de prendas de Natal, a carta que escrevi ao Pai Natal, nada disso era agora importante. Apesar de ser véspera de Natal, as notícias que aguardava eram bem diferentes.
Tudo acontecera três dias antes quando o meu pai e os meus irmãos sairam no barco para a pesca. Como de costume fizeram-se ao mar de madrugada, com o barco vazio mas cheio de esperança numa pescaria que pudesse trazer algum conforto para a família. Prometeram estar de regresso no dia seguinte, mas não chegaram. Nem no dia a seguir. Foi nessa altura que um oficial da marinha veio lá a casa informar que a embarcação tinha sido dada como desaparecida, pois não conseguiam comunicar desde a sua partida. A minha mãe nem queria acreditar e passou toda a noite a chorar.
Resolvi desligar as luzes da árvore de Natal. Apenas um vela junto à janela permanecia acesa, dia e noite. Sei que por ter apenas dez anos, os mais velhos pensam que não nos apercebemos destas coisas, mas estava triste, muito triste ...
Continuei a olhar a imensidão do mar.
Quando chegou a noite deixei de ver os barcos ao longe e decidi regressar a casa. A minha mãe não tinha feito as rabanadas, não havia bolo rei nem pão de ló, nem queijo, nem bacalhau com batatas, nem ovos, nem sumo, nem presentes junto ao pinheiro. Mas nada disso era importante e acabamos por adormecer no sofá, as luzes apagadas e apenas com uma vela acesa junto à janela.
De repente, acordamos com um enorme estrondo. Como estava a dormir nem me apercebi do que se passava. Saltamos do sofá e vimos que estava alguém a bater à porta. A minha mãe correu para a abrir e o meu pai e os meus irmãos entraram a correr pela casa e abraçaram-nos com tanta força que até faltava o ar. Tinham estado perdidos no mar mas foram salvos pela Guarda Costeira, que os trouxe de regresso a terra. Após a grande confusão que se gerou, todos nos sentamos à mesa. Conversámos toda a noite cheios de felicidade por estarmos todos juntos. E os presentes? Tudo o que mais desejava já estava ali comigo, no conforto da nossa casa.
Afinal, este Natal não fiquei zangado por não receber presentes.
Texto de autor anónimo
Ilustração da Prof.ª Cristina Brás
Ilustração da Prof.ª Cristina Brás
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