domingo, 24 de abril de 2016

ESCRITORA E ILUSTRADORA MANUELA BACELAR DE VISITA ÀS NOSSAS ESCOLAS - EM BREVE

Em breve, Manuela Bacelar visitar-nos-á. Será, certamente, um dia especial mas escolas de primeiro ciclo e jardins de infância do nosso agrupamento: os nossos alunos mais novos terão a oportunidade de conhecer esta autora e coautora de variadíssimas obras. 
Para que fiques a saber um pouco mais sobre esta autora, deixamos-te uma entrevista publicada no Jornal AS ARTES ENTRE AS LETRAS

«Ilustradora infantil é um carimbo que pesa bastante»



Com 70 anos de idade e 42 de trabalho, a escritora e ilustradora Manuela Bacelar inaugura mais uma exposição no próximo sábado. Não era a sua intenção, mas hoje é um nome imediatamente associado à literatura infantil. As circunstâncias assim o ditaram… Mas é clara: «A minha ideia era ser ilustradora ‘tout court’. Numa conversa descontraída, abordou o seu percurso profissional, falou das mudanças e do presente, e revelou depositar esperança na nova geração de artistas plásticos.
_________________________________________________________________________________
Entrevista por Isabel Fernandes

Em que ano começou como ilustradora? Encontrei datas distintas, 71 e 88.
Em 88, saí da Função Pública e passei a ser freelancer em ilustração. Mas publiquei a primeira vez em 1971: numa colaboração para «O Século» para uma página de humor e, a convite da Isabel da Nóbrega, colaborei também na secção infantil de uma revista chamada «Rita». E aí puseram-me um carimbo: ilustradora para a infância. Quando comecei não era nada essa a minha ideia: era ser ilustradora ‘tout court’, para criança, para adultos… porque quando daqui saí faziam-se livros ilustrados para adultos e eu pensei que ia reencontrar esse mercado e esse mercado tinha acabado.
Como é que entra na ilustração?
Sabia-se que havia uma pessoa que tinha vindo de Praga com o Curso de ilustração, mas não era mais do que isso. A partir daí o mundo é pequeno e Portugal ainda mais – era fácil encontrar as pessoas. E assim comecei, e a ter o carimbo que neste momento pesa bastante!
Ilustrar para crianças é uma responsabilidade acrescida?
Hoje tenho consciência disso, quando comecei não tinha, mas o que eu gostava de facto era [de] tudo que fosse narrativo, fosse cinema de animação, ilustração, teatro, cinema propriamente dito ou banda desenhada. O que eu gostava era de histórias, o formato tanto me fazia! Era-me perfeitamente indiferente! Hoje em dia poderei tirar a conclusão, sem querer estar aqui a fazer grandes análises, que tinha uma sopa de coisas na minha cabeça que me fazia escolher pela narração. Mesmo quando eu decido não me dedicar à ilustração, a minha pintura acaba sempre por ser narrativa.
Que diferenças há na área da ilustração entre o tempo em que começou e hoje?
Eu não fui criada num mundo de “inhos”. E em Praga também constatei que se escrevia para as crianças de outra maneira. Quando regressei a Portugal, de facto, os livros pecavam por isso. Os livros eram bem escritos e muito bem escritos, com humor, e muito humor, mas volta e meia era o “inho”. E outra coisa que me irritava era porem no texto as cores, porque essa parte é minha! Escusam de escrever tanto, porque se o livro vai ser ilustrado, não precisa de ser tão descritivo. E eu era muito chatinha… e a coisa passou. Ou porque começaram a vir mais livros lá de fora, ou porque aceitavam as críticas.
E esses “inhos” em que medida são prejudiciais?
As crianças são pessoas, não são nenhumas almas do outro mundo! E escrever para crianças é escrever para pessoas. E não me acredito que  algum escritor tenha na cabeça, mesmo que escreva “inho, inho, inho”, que a criança é um ser inferior. Havia, e talvez ainda haja, a ideia de que escrever para crianças é muito fácil. Nota-se na maneira como os textos são escritos e nota-se pelo tipo de descrição que acaba por ser desadequada - nem é para muito pequenos, nem é para adolescentes, nem é para adultos.
Em que fase da sua carreira está?
Apetece-me continuar a fazer o que tenho feito ultimamente: pego num livro sobre um determinado tema, faço-o e apresento-o à editora.
A cor é essencial na ilustração?
A cor é tão importante como o papel. Tudo é importante. Eu neste momento estou numa encruzilhada, que é aquelas perfeitas árvores de natais que são os escaparates dos livros infantis. Brilhos, purpurina, cores que não existiam… não tenho nada contra, mas só assim? Muita cor que é para ser o primeiro a ver-se.
Como é que surgem os temas para os livros que escreve e ilustra?
Os meus a 100 por cento... a maior parte das vezes penso numa brecha.
Para que funcionem como sugestões?
Não dou sugestão nenhuma! Eu, simplesmente, conto uma história feliz entre um avô e um neto, no caso de «O meu avô». O meu problema, às vezes, não é começar as histórias, é o meio. Como é que começo e como é que acabo, eu sei… preencher o meio é que é difícil. Porque gosto de romances enxutos, sem nada a mais. Gosto de personagens muito bem definidas, muito coerentes, e gosto de uma certa poupança de palavras. Dar o ambiente com coisas subtis e que vêm a propósito de qualquer coisa.
Como ou quem é que escolhe a técnica para as suas ilustrações?
O texto e ou o papel. Porque há papéis tão bonitos que muitas vezes para não os estragar faço desenhos muito levezinhos. Eu não quero que o meu desenho interfira com aquele papel que escolhi, porque estava de acordo com aquele texto. Tudo está em harmonia. Mas é que tudo mesmo tem de estar em harmonia. E não estamos só a falar em livros.
Como é que surgem os trabalhos de temas livres?
Surgem pelo prazer que me dão.
Como é que vê o futuro da cultura em Portugal?
Quando estou com jovens de vinte e poucos, trinta anos, acho que eles têm uma pedalada que a geração a seguir à minha não tinha. Fazem coisas giríssimas!
Então o futuro está assegurado?
Eu tenho esperança nesta malta que anda aí a fazer coisas, que se juntam. E há cada vez mais malta a arriscar dedicar-se a tempo inteiro à sua arte. Isso não se via.
Tem uma opinião sobre o Acordo Ortográfico?
Sou contra! Completamente! Nem percebo de onde é que isto vem. Devem ser desses senhores que fazem para aí livros a granel… Não sei! Uma pessoa bem pensante e bem falante não pode concordar. Eu gostava de perceber onde é que tudo isto começou. Estamos a tirar o c, o c vem do Latim e o Português é uma língua latina! O Brasil é outro continente, é um país novo, nós estamos lá para trás.
Nós abdicamos muito rápido da nossa cultura?
Mas isso é provincianismo, cá para mim!

Fernandes, I. (2013) Ilustradora infantil é um carimbo que pesa bastante. AS ARTES ENTRE AS LETRAS, 106, 4-5.
(Texto com supressões)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigada pelo seu comentário!