Agora que o último período letivo
está à porta, nada melhor que começá-lo com um belíssimo poema de Jorge Luis
Borges, o colossal poeta argentino de ascendência portuguesa:
OS JUSTOS
Um homem que cultiva o
seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na
terra haja música.
O que descobre com prazer
uma etimologia.
Dois empregados que num
café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita
uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe
bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que
leem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal
adormecido.
O que justifica ou quer
justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na
terra haja Stevenson.
O que prefere que os
outros tenham razão.
Essas pessoas, que se
ignoram, estão a salvar o mundo.
Jorge Luis Borges, in A Cifra
Tradução de Fernando
Pinto do Amaral
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